Willy Monteiro nasceu na Itália e tal como muitos outros filhos de imigrantes cabo-verdianos
Lúcia Duarte e o julgamento dos assassinos do filho em Itália
“WILLY ME DÁ FORÇA PARA ENFRENTAR O PROCESSO”
O julgamento dos quatro italianos que durante longos 20 minutos espancaram ate a morte o jovem Willy Duarte Monteiro na madrugada de 06 de Setembro do ano passado na cidade italiana de Collefero começou no passado mês de Julho mas o processo promete ser longo e extenuante, particularmente para a são-nicolaense Lúcia Duarte – mãe de Willy- e outros familiares que são parte civil no processo.
O julgamento, que decorre à porta fechada e com os réus em vídeo conferencia no Tribunal de Frosinone, no concelho de Paliano, o julgamento, pela sua relevância mediática e impacto humano, tem atraído dezenas de jornalistas que tentam entender o que extamente aconteceu na madrugada trágica.
Os quatro acusados – três em prisão preventiva e um em prisão domiciliaria – respondem por crime de homicídio voluntario, incorrendo a penas que podem chegar à prisão perpetua.
Para Lúcia, contudo, é extremamente doloroso ouvir repetidamente os pormenores macabros desse crime que ceifou a vida do filho de 21 anos. “Willy sofreu muito” – diz ela – acrescentando que se estivesse no local daria a vida para o salvar.
Nos olhos e na voz de Lúcia não há, contudo, nem raiva nem ressentimento. Apenas tristeza : uma grande tristeza que só o tempo pode sanar. Enquanto isso procura no fundo da alma força e coragem para enfrentar o processo, força e coragem que ela diz que também vem de Willy, onde quer que ele esteja. Como ela mesmo diz :
“ Willy sempre me deu muita força, sempre me ajudou nos momentos difíceis. Meu filho trabalhava muito, ele era feliz, amava todos e todos o amavam. Mataram-no porque vendo o seu amigo a ser agredido ele não podia virar a cabeça para o lado. Foi morto a pontapés e socos por não ter desviado o olhar, por defender um amigo em dificuldade, por escolher a paz em vez da violência. Tenho muito orgulho mo meu filho. Tenho e sempre terei “.
“SÓ MATARAM UM IMIGRANTE “
“Afinal, o que eles fizeram? Nada. Mataram apenas um imigrante”.
Foi assim que um dos pais dos quatro assassinos justificou o ato do filho, legitimando a dinâmica da violência, do linchamento e da apologia da cultura racista e xenófoba numa Itália extremamente dividida.
No processo de Willy o ódio racial pode ate não figurar como móbil do crime, mas não deixa de ser certo que a cor da pele dos envolvidos e um passado de militância neofascista dos agressores apontam para essa agenda neofascista – “Itália para os Italianos” – que promove o ódio e a violência contra imigrantes.
Willy Monteiro nasceu na Itália e tal como muitos outros filhos de imigrantes cabo-verdianos ele estava integrado na sociedade. Um jovem culto, trabalhador, desportista e respeitador da lei. O filho que muitos pais gostariam de ter, se calhar ate mesmo esse pai que disse o filho não fez nada, que só matou um imigrante. O que ele não disse é que se o filho se juntou com outros para matar cobardemente e porque esse filho não teve a educação familiar que Willy recebeu.
Talvez esse pai italiano nunca tenha ensinado o filho a respeitar a vida humana, acabando por criar um ser violento, desajustado e manifestamente desintegrado da sociedade. E nessa madrugada de Setembro o monstro que ele criou não terá perdoado a esse rapaz amável e de pele escura o facto de esse rapaz ser muito melhor de que ele. É aí que entra o ódio ao outro na sua componente racista. fonte:ok
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