Quando escreve o nome, não se limita a escrevê-lo. Procura desenhar bem a letra. “Edna Maria de Lurdes Pais Lima.” É com a mesma dedicação de uma criança que cuida das primeiras letras
Cabo-verdiana em Portugal aprende a ler e a escrever aos 56 anos de idade
RECONQUISTAR A DIGNIDADE....
Quando escreve o nome, não se limita a escrevê-lo. Procura desenhar bem a letra. “Edna Maria de Lurdes Pais Lima.” É com a mesma dedicação de uma criança que cuida das primeiras letras (e com a consciência, do alto dos seus 56 anos, da importância de saber ler e escrever). Já o país onde nasceu parece estar escondido num qualquer recanto da memória: sabe dizê-lo, o difícil é transpô-lo para o papel.
A educadora ajuda-a e Edna lembra-se. Sorri: Cabo Verde. Escreve e volta a escrever. No final, na pequena folha A5 ficam gravadas algumas palavras que revelam a sua identidade: o nome, o país onde nasceu, a nacionalidade portuguesa.
Edna é um dos alunos do Centro Cultural e Social da Paróquia de Santo António dos Cavaleiros, em Loures ( Portugal) que nos últimos dois anos se reuniam das 10h às 12h, duas vezes por semana, para ter aulas de alfabetização.
Apesar das dificuldades, Edna recorda este percurso com carinho. Decidiu percorrê-lo porque os filhos já eram crescidos, não trabalhava e tinha tempo para regressar aos estudos. “Aos poucos fui aprendendo o que tinha esquecido... Já sabia escrever as letras, mas não sabia juntá-las.” Exceto o próprio nome: nunca esqueceu a forma de o passar para o papel. Se tivesse continuado os estudos poderia ter ido ainda mais longe, mas foi obrigada a deixar a escola muito cedo, aos nove anos, rumo a Angola para trabalhar “em casa de senhora”. O sorriso fecha-se quando evoca essas memórias: “A senhora que me levou para Angola disse que me metia na escola, mas não o fez”.
Viajou depois para Portugal, empurrada pelos ventos da revolução de Abril. “Aos 16 vim para aqui e comecei a trabalhar para a patroa. Fui mãe aos 18”, ri-se suavemente. “Trabalhei muito, tive oito filhos, a vida era difícil. Já deixei de trabalhar há muito tempo, mas o que aprendi em Portugal foi muito bom: sei cozinhar, costurar… e agora ler.”
Não tem diploma ou certificação (o curso não o permite) que comprove que sabe ler e escrever. Mas Edna não se importa. “O que sei, sei. O que vivi, vivi.” E di-lo com a alegria de quem sente na pele o valor de (re)aprender a ler e a escrever.
Um dia a Edna chegou a escola toda contente porque já conseguia ler as frases na televisão. “Pois foi”, ri-se. “E agora até as instruções do autocarro consigo ler: via Padre Cruz, via Odivelas… Mesmo a conta da luz ou da água já consigo ler. Quando vamos viajar e tenho que preencher o papel para ir para Cabo Verde… antes pedia sempre a alguém para preencher, agora já consigo eu.” E remata, com o mesmo sorriso que a acompanhou durante toda a conversa: “Foi por isso que vim fazer este curso.”
fonte:ondakriolo,http://expresso.sapo.pt/
RECONQUISTAR A DIGNIDADE....
Quando escreve o nome, não se limita a escrevê-lo. Procura desenhar bem a letra. “Edna Maria de Lurdes Pais Lima.” É com a mesma dedicação de uma criança que cuida das primeiras letras (e com a consciência, do alto dos seus 56 anos, da importância de saber ler e escrever). Já o país onde nasceu parece estar escondido num qualquer recanto da memória: sabe dizê-lo, o difícil é transpô-lo para o papel.
A educadora ajuda-a e Edna lembra-se. Sorri: Cabo Verde. Escreve e volta a escrever. No final, na pequena folha A5 ficam gravadas algumas palavras que revelam a sua identidade: o nome, o país onde nasceu, a nacionalidade portuguesa.
Edna é um dos alunos do Centro Cultural e Social da Paróquia de Santo António dos Cavaleiros, em Loures ( Portugal) que nos últimos dois anos se reuniam das 10h às 12h, duas vezes por semana, para ter aulas de alfabetização.
Apesar das dificuldades, Edna recorda este percurso com carinho. Decidiu percorrê-lo porque os filhos já eram crescidos, não trabalhava e tinha tempo para regressar aos estudos. “Aos poucos fui aprendendo o que tinha esquecido... Já sabia escrever as letras, mas não sabia juntá-las.” Exceto o próprio nome: nunca esqueceu a forma de o passar para o papel. Se tivesse continuado os estudos poderia ter ido ainda mais longe, mas foi obrigada a deixar a escola muito cedo, aos nove anos, rumo a Angola para trabalhar “em casa de senhora”. O sorriso fecha-se quando evoca essas memórias: “A senhora que me levou para Angola disse que me metia na escola, mas não o fez”.
Viajou depois para Portugal, empurrada pelos ventos da revolução de Abril. “Aos 16 vim para aqui e comecei a trabalhar para a patroa. Fui mãe aos 18”, ri-se suavemente. “Trabalhei muito, tive oito filhos, a vida era difícil. Já deixei de trabalhar há muito tempo, mas o que aprendi em Portugal foi muito bom: sei cozinhar, costurar… e agora ler.”
Não tem diploma ou certificação (o curso não o permite) que comprove que sabe ler e escrever. Mas Edna não se importa. “O que sei, sei. O que vivi, vivi.” E di-lo com a alegria de quem sente na pele o valor de (re)aprender a ler e a escrever.
Um dia a Edna chegou a escola toda contente porque já conseguia ler as frases na televisão. “Pois foi”, ri-se. “E agora até as instruções do autocarro consigo ler: via Padre Cruz, via Odivelas… Mesmo a conta da luz ou da água já consigo ler. Quando vamos viajar e tenho que preencher o papel para ir para Cabo Verde… antes pedia sempre a alguém para preencher, agora já consigo eu.” E remata, com o mesmo sorriso que a acompanhou durante toda a conversa: “Foi por isso que vim fazer este curso.”
fonte:ondakriolo,http://expresso.sapo.pt/
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