hífen, em “caboverdiano”, pode dar a entender a ideia de um povo dividido. Ora, em Cabo Verde, a ideia de unidade é um desígnio nacional
As razões por que escrevo CABOVERDIANO sem hífen:
Não é por distração que escrevo "caboverdiano e caboverdiana"sem hífen. É que esse hífen é um peso inútil que não tem fundamentação nem linguística, nem lógica, nem pragmática. Com efeito:
1) Linguisticamente falando, “caboverdiano” representa um único monema, diferente, por exemplo, da expressão “luso-brasileiro” onde há dois monemas. Além disso, se subtrairmos o hífen, a palavra não sofre nenhuma erosão, nem do ponto de vista fonético-fonológico, nem do ponto de vista conceptual e semântico. Qual será então a mais-valia desse hífen? Nenhuma. Não sendo nem funcional, nem pertinente; não representando nenhuma mais-valia linguística, torna-se uma sobrecarga desnecessária que vem na linha do estipulado no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, no concernente, por exemplo, à queda das consoantes mudas que representam também uma sobrecarga inútil. Daí a sua supressão.
2) Do ponto de vista da lógica, não se percebe por que se deve colocar o hífen na palavra “caboverdiano” e não fazer o mesmo com a palavra “português”? Ambos os termos são derivados gentílicos (o primeiro proveniente de “cabo verde”; o segundo de “portus cale”, ou seja porto quente). Além disso, a mesma lógica que preside na representação de compostos (pátrios) como sanvicentino, santantonense, boavistense … (que não passa pela cabeça de ninguém representá-los com hífen), deveria também presidir na representação do gentílico “caboverdiano”.
3) Do ponto de vista da pragmática, tanto em “caboverdiano” como em “português” já se perdeu a noção de composição. Quando dizemos “caboverdiano” não pensamos nem em cabo, nem em verde. O mesmo acontece com caboverdianidade, caboverdianamente, caboverdura. Também na Ilha de Santiago, que é matriz de todas as outras variantes e variedades do crioulo, se diz “kauberdianu”e não “kau-berdianu”. Além disso, a desordem que existe na representação da palavra (caboverdiano, caboverdeano, cabo-verdiano, cabo-verdeano, Cabo-Verdiano, Cabo-Verdeano), reclama uma urgente unificação.
Há que ter em conta ainda que o hífen, em “caboverdiano”, pode dar a entender a ideia de um povo dividido. Ora, em Cabo Verde, a ideia de unidade é um desígnio nacional, é um projeto comum, é uma preocupação constante.
Eis, pois, as três razões por que escrevo “caboverdiano”, sem hífen. Entretanto, como académico, não recusarei rever a minha posição se os meus argumentos forem, com fundamento linguístico, lógico e pragmático, desconstruídos, de forma convincente e esclarecedora, pelos defensores do uso do hífen na palavra em apreço. Em não havendo tais argumentos, convido a todos que sufraguem a minha posição, com base na fundamentação apresentada. Seria um bom serviço prestado ao POVO CABOVERDIANO.
Manuel Veiga
Não é por distração que escrevo "caboverdiano e caboverdiana"sem hífen. É que esse hífen é um peso inútil que não tem fundamentação nem linguística, nem lógica, nem pragmática. Com efeito:
1) Linguisticamente falando, “caboverdiano” representa um único monema, diferente, por exemplo, da expressão “luso-brasileiro” onde há dois monemas. Além disso, se subtrairmos o hífen, a palavra não sofre nenhuma erosão, nem do ponto de vista fonético-fonológico, nem do ponto de vista conceptual e semântico. Qual será então a mais-valia desse hífen? Nenhuma. Não sendo nem funcional, nem pertinente; não representando nenhuma mais-valia linguística, torna-se uma sobrecarga desnecessária que vem na linha do estipulado no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, no concernente, por exemplo, à queda das consoantes mudas que representam também uma sobrecarga inútil. Daí a sua supressão.
2) Do ponto de vista da lógica, não se percebe por que se deve colocar o hífen na palavra “caboverdiano” e não fazer o mesmo com a palavra “português”? Ambos os termos são derivados gentílicos (o primeiro proveniente de “cabo verde”; o segundo de “portus cale”, ou seja porto quente). Além disso, a mesma lógica que preside na representação de compostos (pátrios) como sanvicentino, santantonense, boavistense … (que não passa pela cabeça de ninguém representá-los com hífen), deveria também presidir na representação do gentílico “caboverdiano”.
3) Do ponto de vista da pragmática, tanto em “caboverdiano” como em “português” já se perdeu a noção de composição. Quando dizemos “caboverdiano” não pensamos nem em cabo, nem em verde. O mesmo acontece com caboverdianidade, caboverdianamente, caboverdura. Também na Ilha de Santiago, que é matriz de todas as outras variantes e variedades do crioulo, se diz “kauberdianu”e não “kau-berdianu”. Além disso, a desordem que existe na representação da palavra (caboverdiano, caboverdeano, cabo-verdiano, cabo-verdeano, Cabo-Verdiano, Cabo-Verdeano), reclama uma urgente unificação.
Há que ter em conta ainda que o hífen, em “caboverdiano”, pode dar a entender a ideia de um povo dividido. Ora, em Cabo Verde, a ideia de unidade é um desígnio nacional, é um projeto comum, é uma preocupação constante.
Eis, pois, as três razões por que escrevo “caboverdiano”, sem hífen. Entretanto, como académico, não recusarei rever a minha posição se os meus argumentos forem, com fundamento linguístico, lógico e pragmático, desconstruídos, de forma convincente e esclarecedora, pelos defensores do uso do hífen na palavra em apreço. Em não havendo tais argumentos, convido a todos que sufraguem a minha posição, com base na fundamentação apresentada. Seria um bom serviço prestado ao POVO CABOVERDIANO.
Manuel Veiga
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