Tarrafal comemora 100 anos, Mario Loff presenteia Tarrafal e sua gentes com poemas
Efeito de pedra que dá pena
No último verão antes de a Graciosa mudar de cor
Ela tentava lembrar do nome da nascente que a molestou.
Uma nascente viva e lenda, sargaço crua e água que fluía
Mesmo na língua da ciência da rocha seria encanto
Sorriso das gentes de mangue olhar de santo e as águas e Pranto
Mesmo no tempo antigo ainda vazam lagrimas de Bibinha a vizinha Cabral
Os ombros dos ventos alísio que alimenta os recipientes de fome do vizinho Simplício.
A graciosa muda de cor, ela ainda procura o motivo e molestamento
Ela sussurra o nome do nascente baixinho, o feitiço permanece intacto
A magia da água é de pedra dura em água que passa e dá a pena.
Acha em mim intactas as águas de pedra inpena.
A água que dá pena, que tinha ela desfigurado em antiquado de pena no secadal
E serreia no tempo de azáguas e enxada que dobram de fazenda até o zumbido de Achada Meio.
Tenho milhões de Tarrafal em mim.
Mesmo em mim me consola eu sou calmo e desnorteado no norte
Mesmo epilogando que aqui, é o rabo do planeta terra e graciosa.
Mario Loff
Secular e hiperbóreo
Agora que és secular,
Me exibe o trilho da luz e a tua repulsa triste e disporia
Talvez, estirpes teus já pensam anosas e termais
Oriunda de árvore, bussola e cansaço. A descomunal arvore besta do mundo.
Até a onde vai a tua raiz, tarrafa. Até norte do mundo.
Mesmo preso qual nome, qual fome desprende de ti, Tarrafal.
O setentrional é preso em ti,
Qual viseira a graciosa não poe até Serra Malagueta
Se ainda o santo que é amado vive preso na tua origem
E a Catarina, mesmo sendo calva e inculta é Santa
Que não toma banho. Quando cai o frio, ela limpa no mar do presidente
Mesmo anosa, com o mundo na boca. Sem dente.
A inseparável que um dia essas raízes centenárias, hão-de unir.
E não mais.
Hão-de unir os rebentos que tu contestas
e ainda atearão a luz no teu aniversario
Ainda o rosário
Fica pendurado da cabeça aos pés. Menina Tarrafal, tu ficas ao norte!
Qual fé ainda te resta e perde na escuridão de uma pretidão do café.
Levanta a cara, o corpo, e veja a tua filha angra, sorrindo.
Mesmo com águas salgadas de sete furnas.
De resto
Contempla-se
Mario Loff
Irmãos prigenti
Em que homens é que nos tornamos
Que desafiou todos os signos da criação
Meu irmão
Que humanos nós viemos a ser
Meu irmão gémeo
Fazemos anos no mesmo dia
Nascemos no mesmo dia
A tua cara é a minha cara
O sorriso que desfloras na tua cara, também é meu
Só a tua alma e o teu sofrimento não e meu,
Desculpa, por não sentir a tua alma
Mas a tua alegria, dor, desejo, medo será sempre nosso
Sem sermos a antinomia do bem e do mal
Somos mortais por sim e pelo não
Tu de Corpo piji alma de genti
E nós de nome pigenti
Infelizes na escola, estivemos sempre “presentes”
Eduardo e Ricardo
São só registo neste corpo de um atleta aposentado
É de um guarda sonolento e cansado.
Tudo isso!
Será alguma transgressão do senhor?
O amor e a amizade que as gentes da minha cidade
Sentem por mim, é maior que a nossa dimensão física
Cheguei a ser mais afamado que graciosa,
Em grandes corridas nas festividades
Quando o rei é Santo muito Bem-amado
E tu meu irmão, tu serás sempre o meu único Monte Graciosa
Mario Loff
Eu, Xeque Mangue
Como é a vida,
Como a vida nos faz vestir pele urdido
De materiais podres e o produto é a imagem que se quer
Que acreditam que se quer
Como eu
Eu que sou tão alto de boas maneiras
Eu que sou baixo, e recuso ser anão
Eu que tenho dado mãos em forma de comprimento
E entendem que sou palhaço e quando mais insisto
Mais palhaço sou
Tenho feito juros, me sobram acusações de ser aliado financeiro
Me assinam e me acusam todos os dias
De ser xeque para todos os usos baratos
Tenho intimidade com Dinheiro
Mas de finanças só amigos, impostos pagos, em notas, e alguns trocos,
Que me lembro
Que por dinheiro sou capaz de ter pudor financeira
Como dói o bolso do meu povo, duas mãos a pedir, é a dor
Neste subúrbio, quando tomo a decisão de Ficar calado
Sou incómodo, e desperto atenção do povo
Sinto que a falta não é de mim é de um bobo, e de um palhaço
Mais que um palhaço, uma imagem de homem que não abdica na hora
Que a batalha é guerra e a guerra chama-se honra
Consumo todas as derrotas nas guerras, e festejo todas as batalhas,
A desistência dos meus émulos vem por insistência minha, ai sinto que tenho em mim
Uma perseguição mas longa que a própria memoria,
Eu que observo neles todos o porquê do meu tamanho, quando a palavra é respeito
Por falta de palhaços
Sendo eu da cabeça aos pés por mais esforço que faço
Saio em três dimensões
Clareio meio homem,
Entardeço meio matéria para o riso
Anoiteço como guarda da praça
Eu que ando pelos bancos
Em busca de abonos e sou sempre sem préstimos
Eu que mesmo sem querer, guardo os bancos
Quanto mais o tempo passa ganho idade como se IVA fosse
Matéria para velhice
Me tem acusado de ser chato sem saber
Que de amor, entendo, a oportunidade é escassa como
As mulheres que tanto aguardo para ser dona deste meu
Triste coração, que clama aconchego de um abraço feminino
Mesmo velha como a felicidade e o amor,
Basta que saiba a dimensão da grande urgência
Mais necessitado que a própria carência.
Eu que tenho declamado, trechos de telenovela
Na praça, ruas, igrejas e dentro de mim
Que tenho rezado a luz da vela
Orações de insistência que perdeu no caminho de casa e mesmo assim aceito
Aceito esta fé caduca como eu
Tenho sido criança, mesmo assim têm me negado
Como se incapaz fosse a raça de nome xeque neste povoado de nome para fruta
Mesmo sendo raça, assim como eu, seria virtude,
Seria humanamente a humanidade
Eu, xeque, em tudo que eu faço que penso, já não vejo o meu destino
Nos ventos ou nos ares que algum deus me envia
O meu destino eu mesmo que idealizo
Enquanto sou xeque de mangue
Sairá sempre de dentro de mim.
Mario Loff
E Hoje Lambosca
Hoje o sol nasceu, o dia clareou,
O sol já despertou no horizonte, o sol
Ainda é estrela, que não nasce para muitos como eu
Que vive tagarelando com a pobreza
Que quando fala é sinonimo de bacandeza
Sem ter feitio de bureza
Tenho varapaus mas me faltam anzois para pescar
Os peixes são bastante desmedidos para mim
Por mais coragem que tem um espírito, pior será a pobreza da alma
Mas a minha é da matéria
E hoje Lambosca
Já não sou criança
que quando criança fazia humor
Os rapazes riam na praça
Quando jovem, sujava as palavras, numa inteligência imbecil
E não entendia a vida, a vida tem códigos mudos
Talvez me tornei assim, não limpei as palavras
Ganhei a Duda para vida uma futura
E Hoje Lambosca
Esse hoje já tem muitos anos
Velho, empurrando a desgraça
Agora velho, sei limpar as palavras que ficou sem graça
Ainda sou Lambosca
E hoje Lambosca
Qual é o risco que se corre quando não se morre de uma só vez
Eu sou Lambosca
O homem mas rico do mundo, que lambuza na pobreza
Tenho mais apertos de mão, do que dinheiro em mãos
Tenho declamado teorias da pobreza que nenhum mendigo viveu
Tenho sido poeta mais tosco da minha cidade, mas ninguém liga, ninguém entende
E no fim sempre pergunto
E hoje Lambosca,
Tenho casa, tinha esposa, tenho vida, sempre vidinha
Que finjo estar a viver,
Enquanto o mundo anda as pressas eu troco de passos
A minha velocidade de viver abrandou, se isto é vida, estou fodido
E hoje Lambosca
Ninguém me visita, falam comigo mas não me ligam
Debocham de mim, e eu gosto, da primeira vez eu aceitei
E hoje Lambosca
Sou Lambosca
Tenho casa, tinha Duda, tinha tudo
Aquela casa deixou de ser tesouro, Duda me deixou
A minha vida ficou antiga
A Duda me deixou, o amor me abandonou,
Agora onde esta a Duda
Meu filho me deixou, a minha alegria acabou
Duda onde estas?
Conformo com a pobreza,
Mas não conformo com a falta de Duda
Mas um dia acabou
Volto a perguntar
E hoje Lambosca
Mario Loff
No aniversário de Tarrafal voltarei
Para ser feliz mesmo sem a minha carne
Mas direi…
Se alguém conheceu o mal
Viu no teu chão erguer-se uma prisão
Quem te chamou de fulano de tal
Em forma plena, habita ao norte, a cara e o coração
Ainda que se sente a ausente tarrafa
E te deu o nome de Tarrafal
Se a ilha é completa, a norte fica a cara de um vento banal
Dentro de mim é um insistente murro de saudades
Ergue-se, há de se erguer a sentença fatal
Dos poetas, receber-te-ão as saudações.
Ainda que faltam revir os mártires de inúteis impiedades
No Tarrafal, os afrontamentos tem um segredo trivial.
Meu quimérico turístico Tarrafal, estonteias brancas e negrainhas
De mulheres que trinam feito os coqueiros
Mesmo que o meu coração tivesse trilho aguentaria aquelas belas.
Lindas e sem regra. (lembro o abater do sol diante dessas sereias)
Da praia do presidente de gentes que brincam aos berros
Contorno a cara para dentro do meu coração
Num filme ainda criança, na cara dum povo de fidúcia
Vem la mamãe velha a porta do mercado velho vendendo mamão
Vem saudades de insistência e dos barrulhos la da fábrica. Tanta é a emoção.
Mal tivesse tido as minhas veias que nasceram nessas estradas
A mesma toponímia de algum rua macaco que ainda conserva a veia da cidade
Como passa o tempo, asfalta-se o chão, asfalta se os grisalhos das cabeças
Mesmo sendo natural e cativo desta terra de massapés
O meu corpo que deambulava pelos bares movia no ritmo dos meus pés
Quem suportou o Campo e morreu também tem saudade
Tarrafal, demorei para voltar, neste acontecimento
Impilo os dias la para relíquia, vê-se o nascer da sua graciosa e as serras.
Sei que vim tarde, meu Tarrafal, valerá sempre
Solenizar o teu incomensurável centenário
Porque tinha saudades tuas
Se terei que voltar para a minha campa
Ficarei feliz, serei a última voz dos presos
O finto do Skapa
A velocidade do Pigente
A carência do mendigo florido
Não arruamento que não tinha rostos com sorriso
Não há um necessitado, medicado com alegria e aconchego
Falar minha terra será sempre
O cheiroso mar preso na minha sepultura
Que me cobrirá eternamente
E o meu corpo que será terra de cultura
Como um finado assassinado pelo Salazar
Um silêncio cru ao norte do último lugar sem lar.
Mario Loff
Foras
Nos subúrbios, as veias sanguíneas galgam os lábios das levadas
O sexo oposto da urbe, o olho-de-boi vindo de um se calhar mudo
A vegetação absurda de peles humanas, verde por dentro verde por fora
O álcool em miniatura do fogo brando e chamas flácidos dos corpos já gastas
Qual semente germinou no cansaço do acaso
Meio mangue meio fruta, peito de calçada e basalto
Não vêem salvar a plantação de búfalos sem vida de Achada Grande
Galguem as chuvas de agonizantes homens perdurável formado esculca
Beijos de ferro, pelos pubianos de esporas de utopia que morreu com a Bibinha Cabral.
Municipaliza, o santo, esfrega-se o barro na cara e amado plangor,
e contempla-se o metamorfose-amento e medo.
Um planalto imaginário por cobrir a basalto e vestidos e santo lato
São graciosas, são gigantes feito monte defronte a delicadeza
Na zona. Fazenda, planícies de sangue e ossos de cal, arquitectam Tarrafal
Qual tabuleiro, o bradado a deploração do fulano de tal
Uma madruga inteira por anoitecer entre os dedos de mão
Desde a escada do levantamento de cal, a mão apalpa a cauda do real Achada Meio
Ocasião de gritos afáveis de elóquios dos gansos refém da gravata.
Por pouco, os berros se amalgamam com o ganir do homem cão
O pão que anda no horizonte da fome, a pedra que fala na perspectiva do taciturno.
Pedra a pedra, fisionomia de pedra di inpena.
Totalmente negra, de nome afeiçoado sem salvar o dia dos finados.
não se vende e se pisa a negra praia de Ribeira Prata.
Idêntica riqueza e distante a secura vindo do Mato di Oru de Achada Moirão.
Apeteça Omnipotente a erudição do que murmuram
os corvos no rosto do seu trinador
A besta graciosa e monte altero.
Mario Loff
No último verão antes de a Graciosa mudar de cor
Ela tentava lembrar do nome da nascente que a molestou.
Uma nascente viva e lenda, sargaço crua e água que fluía
Mesmo na língua da ciência da rocha seria encanto
Sorriso das gentes de mangue olhar de santo e as águas e Pranto
Mesmo no tempo antigo ainda vazam lagrimas de Bibinha a vizinha Cabral
Os ombros dos ventos alísio que alimenta os recipientes de fome do vizinho Simplício.
A graciosa muda de cor, ela ainda procura o motivo e molestamento
Ela sussurra o nome do nascente baixinho, o feitiço permanece intacto
A magia da água é de pedra dura em água que passa e dá a pena.
Acha em mim intactas as águas de pedra inpena.
A água que dá pena, que tinha ela desfigurado em antiquado de pena no secadal
E serreia no tempo de azáguas e enxada que dobram de fazenda até o zumbido de Achada Meio.
Tenho milhões de Tarrafal em mim.
Mesmo em mim me consola eu sou calmo e desnorteado no norte
Mesmo epilogando que aqui, é o rabo do planeta terra e graciosa.
Mario Loff
Secular e hiperbóreo
Agora que és secular,
Me exibe o trilho da luz e a tua repulsa triste e disporia
Talvez, estirpes teus já pensam anosas e termais
Oriunda de árvore, bussola e cansaço. A descomunal arvore besta do mundo.
Até a onde vai a tua raiz, tarrafa. Até norte do mundo.
Mesmo preso qual nome, qual fome desprende de ti, Tarrafal.
O setentrional é preso em ti,
Qual viseira a graciosa não poe até Serra Malagueta
Se ainda o santo que é amado vive preso na tua origem
E a Catarina, mesmo sendo calva e inculta é Santa
Que não toma banho. Quando cai o frio, ela limpa no mar do presidente
Mesmo anosa, com o mundo na boca. Sem dente.
A inseparável que um dia essas raízes centenárias, hão-de unir.
E não mais.
Hão-de unir os rebentos que tu contestas
e ainda atearão a luz no teu aniversario
Ainda o rosário
Fica pendurado da cabeça aos pés. Menina Tarrafal, tu ficas ao norte!
Qual fé ainda te resta e perde na escuridão de uma pretidão do café.
Levanta a cara, o corpo, e veja a tua filha angra, sorrindo.
Mesmo com águas salgadas de sete furnas.
De resto
Contempla-se
Mario Loff
Irmãos prigenti
Em que homens é que nos tornamos
Que desafiou todos os signos da criação
Meu irmão
Que humanos nós viemos a ser
Meu irmão gémeo
Fazemos anos no mesmo dia
Nascemos no mesmo dia
A tua cara é a minha cara
O sorriso que desfloras na tua cara, também é meu
Só a tua alma e o teu sofrimento não e meu,
Desculpa, por não sentir a tua alma
Mas a tua alegria, dor, desejo, medo será sempre nosso
Sem sermos a antinomia do bem e do mal
Somos mortais por sim e pelo não
Tu de Corpo piji alma de genti
E nós de nome pigenti
Infelizes na escola, estivemos sempre “presentes”
Eduardo e Ricardo
São só registo neste corpo de um atleta aposentado
É de um guarda sonolento e cansado.
Tudo isso!
Será alguma transgressão do senhor?
O amor e a amizade que as gentes da minha cidade
Sentem por mim, é maior que a nossa dimensão física
Cheguei a ser mais afamado que graciosa,
Em grandes corridas nas festividades
Quando o rei é Santo muito Bem-amado
E tu meu irmão, tu serás sempre o meu único Monte Graciosa
Mario Loff
Eu, Xeque Mangue
Como é a vida,
Como a vida nos faz vestir pele urdido
De materiais podres e o produto é a imagem que se quer
Que acreditam que se quer
Como eu
Eu que sou tão alto de boas maneiras
Eu que sou baixo, e recuso ser anão
Eu que tenho dado mãos em forma de comprimento
E entendem que sou palhaço e quando mais insisto
Mais palhaço sou
Tenho feito juros, me sobram acusações de ser aliado financeiro
Me assinam e me acusam todos os dias
De ser xeque para todos os usos baratos
Tenho intimidade com Dinheiro
Mas de finanças só amigos, impostos pagos, em notas, e alguns trocos,
Que me lembro
Que por dinheiro sou capaz de ter pudor financeira
Como dói o bolso do meu povo, duas mãos a pedir, é a dor
Neste subúrbio, quando tomo a decisão de Ficar calado
Sou incómodo, e desperto atenção do povo
Sinto que a falta não é de mim é de um bobo, e de um palhaço
Mais que um palhaço, uma imagem de homem que não abdica na hora
Que a batalha é guerra e a guerra chama-se honra
Consumo todas as derrotas nas guerras, e festejo todas as batalhas,
A desistência dos meus émulos vem por insistência minha, ai sinto que tenho em mim
Uma perseguição mas longa que a própria memoria,
Eu que observo neles todos o porquê do meu tamanho, quando a palavra é respeito
Por falta de palhaços
Sendo eu da cabeça aos pés por mais esforço que faço
Saio em três dimensões
Clareio meio homem,
Entardeço meio matéria para o riso
Anoiteço como guarda da praça
Eu que ando pelos bancos
Em busca de abonos e sou sempre sem préstimos
Eu que mesmo sem querer, guardo os bancos
Quanto mais o tempo passa ganho idade como se IVA fosse
Matéria para velhice
Me tem acusado de ser chato sem saber
Que de amor, entendo, a oportunidade é escassa como
As mulheres que tanto aguardo para ser dona deste meu
Triste coração, que clama aconchego de um abraço feminino
Mesmo velha como a felicidade e o amor,
Basta que saiba a dimensão da grande urgência
Mais necessitado que a própria carência.
Eu que tenho declamado, trechos de telenovela
Na praça, ruas, igrejas e dentro de mim
Que tenho rezado a luz da vela
Orações de insistência que perdeu no caminho de casa e mesmo assim aceito
Aceito esta fé caduca como eu
Tenho sido criança, mesmo assim têm me negado
Como se incapaz fosse a raça de nome xeque neste povoado de nome para fruta
Mesmo sendo raça, assim como eu, seria virtude,
Seria humanamente a humanidade
Eu, xeque, em tudo que eu faço que penso, já não vejo o meu destino
Nos ventos ou nos ares que algum deus me envia
O meu destino eu mesmo que idealizo
Enquanto sou xeque de mangue
Sairá sempre de dentro de mim.
Mario Loff
E Hoje Lambosca
Hoje o sol nasceu, o dia clareou,
O sol já despertou no horizonte, o sol
Ainda é estrela, que não nasce para muitos como eu
Que vive tagarelando com a pobreza
Que quando fala é sinonimo de bacandeza
Sem ter feitio de bureza
Tenho varapaus mas me faltam anzois para pescar
Os peixes são bastante desmedidos para mim
Por mais coragem que tem um espírito, pior será a pobreza da alma
Mas a minha é da matéria
E hoje Lambosca
Já não sou criança
que quando criança fazia humor
Os rapazes riam na praça
Quando jovem, sujava as palavras, numa inteligência imbecil
E não entendia a vida, a vida tem códigos mudos
Talvez me tornei assim, não limpei as palavras
Ganhei a Duda para vida uma futura
E Hoje Lambosca
Esse hoje já tem muitos anos
Velho, empurrando a desgraça
Agora velho, sei limpar as palavras que ficou sem graça
Ainda sou Lambosca
E hoje Lambosca
Qual é o risco que se corre quando não se morre de uma só vez
Eu sou Lambosca
O homem mas rico do mundo, que lambuza na pobreza
Tenho mais apertos de mão, do que dinheiro em mãos
Tenho declamado teorias da pobreza que nenhum mendigo viveu
Tenho sido poeta mais tosco da minha cidade, mas ninguém liga, ninguém entende
E no fim sempre pergunto
E hoje Lambosca,
Tenho casa, tinha esposa, tenho vida, sempre vidinha
Que finjo estar a viver,
Enquanto o mundo anda as pressas eu troco de passos
A minha velocidade de viver abrandou, se isto é vida, estou fodido
E hoje Lambosca
Ninguém me visita, falam comigo mas não me ligam
Debocham de mim, e eu gosto, da primeira vez eu aceitei
E hoje Lambosca
Sou Lambosca
Tenho casa, tinha Duda, tinha tudo
Aquela casa deixou de ser tesouro, Duda me deixou
A minha vida ficou antiga
A Duda me deixou, o amor me abandonou,
Agora onde esta a Duda
Meu filho me deixou, a minha alegria acabou
Duda onde estas?
Conformo com a pobreza,
Mas não conformo com a falta de Duda
Mas um dia acabou
Volto a perguntar
E hoje Lambosca
Mario Loff
No aniversário de Tarrafal voltarei
Para ser feliz mesmo sem a minha carne
Mas direi…
Se alguém conheceu o mal
Viu no teu chão erguer-se uma prisão
Quem te chamou de fulano de tal
Em forma plena, habita ao norte, a cara e o coração
Ainda que se sente a ausente tarrafa
E te deu o nome de Tarrafal
Se a ilha é completa, a norte fica a cara de um vento banal
Dentro de mim é um insistente murro de saudades
Ergue-se, há de se erguer a sentença fatal
Dos poetas, receber-te-ão as saudações.
Ainda que faltam revir os mártires de inúteis impiedades
No Tarrafal, os afrontamentos tem um segredo trivial.
Meu quimérico turístico Tarrafal, estonteias brancas e negrainhas
De mulheres que trinam feito os coqueiros
Mesmo que o meu coração tivesse trilho aguentaria aquelas belas.
Lindas e sem regra. (lembro o abater do sol diante dessas sereias)
Da praia do presidente de gentes que brincam aos berros
Contorno a cara para dentro do meu coração
Num filme ainda criança, na cara dum povo de fidúcia
Vem la mamãe velha a porta do mercado velho vendendo mamão
Vem saudades de insistência e dos barrulhos la da fábrica. Tanta é a emoção.
Mal tivesse tido as minhas veias que nasceram nessas estradas
A mesma toponímia de algum rua macaco que ainda conserva a veia da cidade
Como passa o tempo, asfalta-se o chão, asfalta se os grisalhos das cabeças
Mesmo sendo natural e cativo desta terra de massapés
O meu corpo que deambulava pelos bares movia no ritmo dos meus pés
Quem suportou o Campo e morreu também tem saudade
Tarrafal, demorei para voltar, neste acontecimento
Impilo os dias la para relíquia, vê-se o nascer da sua graciosa e as serras.
Sei que vim tarde, meu Tarrafal, valerá sempre
Solenizar o teu incomensurável centenário
Porque tinha saudades tuas
Se terei que voltar para a minha campa
Ficarei feliz, serei a última voz dos presos
O finto do Skapa
A velocidade do Pigente
A carência do mendigo florido
Não arruamento que não tinha rostos com sorriso
Não há um necessitado, medicado com alegria e aconchego
Falar minha terra será sempre
O cheiroso mar preso na minha sepultura
Que me cobrirá eternamente
E o meu corpo que será terra de cultura
Como um finado assassinado pelo Salazar
Um silêncio cru ao norte do último lugar sem lar.
Mario Loff
Foras
Nos subúrbios, as veias sanguíneas galgam os lábios das levadas
O sexo oposto da urbe, o olho-de-boi vindo de um se calhar mudo
A vegetação absurda de peles humanas, verde por dentro verde por fora
O álcool em miniatura do fogo brando e chamas flácidos dos corpos já gastas
Qual semente germinou no cansaço do acaso
Meio mangue meio fruta, peito de calçada e basalto
Não vêem salvar a plantação de búfalos sem vida de Achada Grande
Galguem as chuvas de agonizantes homens perdurável formado esculca
Beijos de ferro, pelos pubianos de esporas de utopia que morreu com a Bibinha Cabral.
Municipaliza, o santo, esfrega-se o barro na cara e amado plangor,
e contempla-se o metamorfose-amento e medo.
Um planalto imaginário por cobrir a basalto e vestidos e santo lato
São graciosas, são gigantes feito monte defronte a delicadeza
Na zona. Fazenda, planícies de sangue e ossos de cal, arquitectam Tarrafal
Qual tabuleiro, o bradado a deploração do fulano de tal
Uma madruga inteira por anoitecer entre os dedos de mão
Desde a escada do levantamento de cal, a mão apalpa a cauda do real Achada Meio
Ocasião de gritos afáveis de elóquios dos gansos refém da gravata.
Por pouco, os berros se amalgamam com o ganir do homem cão
O pão que anda no horizonte da fome, a pedra que fala na perspectiva do taciturno.
Pedra a pedra, fisionomia de pedra di inpena.
Totalmente negra, de nome afeiçoado sem salvar o dia dos finados.
não se vende e se pisa a negra praia de Ribeira Prata.
Idêntica riqueza e distante a secura vindo do Mato di Oru de Achada Moirão.
Apeteça Omnipotente a erudição do que murmuram
os corvos no rosto do seu trinador
A besta graciosa e monte altero.
Mario Loff
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