"Os Jovens cabo-verdianos e o desafio da participação na vida política e partidária" - JLN

os Jovens cabo-verdianos têm participado de forma intensa na vida política do País. Hélio Batalha o tem feito, mas também Batchard e Rapaz 100 Juíz, através do Rap.

Texto de José Luís Neves: "Se a tua vontade é conseguir vantagens pessoais, dar-se bem na vida, enriquecer-se, ostentar o luxo e a vaidade, não entre na Política. Escolhe um outro caminho! Mas se tens uma visão para o teu País, se acreditas no teu potencial, nos teus ideais, se tens uma causa pela qual pretendes lutar e estás disposto a sacrificar a tua vida pessoal e familiar para servir o outro, então não hesites, abrace a vida política de corpo e alma.

Recentemente, Gualberto do Rosário (GR) escreveu um Post aconselhando os Jovens a não se meterem na Política – “Não se metam nisto” – afirmou de forma contundente. Há algum tempo atrás, já em tons mais equilibrados, também José Maria Neves (JMN) afirmara que “não gostaria que os meus filhos seguissem o mesmo caminho do que eu”.

JMN e GR não são pessoas quaisquer. São Personalidades e Figuras Públicas e Políticas incontornáveis da sociedade cabo-verdiana. Os dois são portadores de percursos político-partidário marcantes e ambos chegaram a desempenhar as altas funções de Primeiro Ministro de Cabo Verde.
E a questão é: porque eles, justamente eles, dispensaram tais conselhos aos Jovens? Só eles o sabem! Porém, vindos de quem vem, devem merecer da parte dos Jovens a devida atenção e ponderação. É que os dois já trilharam o caminho da Política, conhecem o itinerário e sabem o quão íngreme, penoso, espinhoso e doloroso ele possa ser. Se GR é perentório e aconselha os Jovens a não se meterem em tal aventura, já JMN é mais equilibrado e não propõe a exclusão dessa possibilidade, antes sugerindo a escolha de um outro caminho, uma outra trajetória, um outro percurso.

Os Jovens estiveram sempre na linha da frente dos “combates” e em todos os momentos altos da Nação. Amílcar Cabral jurou a si mesmo que daria a sua vida ao serviço do seu Povo e a deu pela liberdade da Guiné e de Cabo Verde; Imaginemos se ele, Aristides Pereira, Pedro Pires, Mascarenhas Monteiro, mas tantos outros contemporâneos seus, não tivessem doado a sua juventude e lutado pelas causas da independência, da liberdade e da democracia e trabalhado arduamente para a melhoria do bem-estar geral, desde a hora zero da República, quando Cabo Verde ainda era apenas “…ilhas perdidas no meio do mar, que as ondam embalam e maltratam”!? Imaginem se JMN e GR, mas também Carlos Veiga e tantos outros contemporâneos seus não tivessem tomado a facha para continuar a caminhada, e não tivessem doado a sua juventude e lutado para um Cabo Verde, mais desenvolvido, mais competitivo, mais moderno e mais próspero!? Não fosse assim, talvez ainda hoje nós éramos os “flagelados do vento leste, aprendendo com o vento a bailar na desgraça e com as cabras a comer pedras para não perecermos”.

Na África do Sul, Nélson Mandela teve que trilhar “um longo caminho pela liberdade”, na luta contra o Apartheid. O indiano Mahatma Gandhi afirmou que “quem não vive para servir, também não serve para viver” e viveu para servir a causa da liberdade do seu País da opressão e do jugo colonial. Barack Obama teve a “Audácia e Esperança” acreditou e disse “Yes we can” e conseguiu ser o improvável Presidente dos EUA, o 1º Presidente Negro na história do País mais poderoso do mundo!? “I have a dream”- disse Martin Luther King, que acreditou que os sonhos se pudessem realizar e não apodrecer na cabeça dos seus sonhadores e lutou até à morte para os tornar realidade.
A evidência empírica demonstra-nos, portanto, que a Política é fundamental para a vida dos Povos, dos Países e das Nações. Aliás, é nesta linha que o Ex Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, afirma nas suas célebres “Cartas a um Jovem Político” que é preciso participar porque “a política é importante demais para ser deixado só para os políticos profissionais, isto é, aos que vivem da política e por mais desmoralizada que seja atualmente, alguém tem que se ocupar da tarefa de governar, porque qualquer Nação precisa ser governada e, por isso, convém que seja governada pelos melhores, pelos mais bem-intencionados”.

Hoje mais do que nunca, por razões sobejamente conhecidas, porque os desafios são incomensuráveis, Cabo Verde precisa de um forte engajamento e comprometimento dos seus Jovens com a Política, de Jovens Politizados, comprometidos com a realização do bem comum, com a missão de servir e não de servir-se da Política, Jovens que desejam efetivamente dar a sua contribuição para um País melhor ou como diria Michele Obama, “...fazer a diferença na vida das pessoas”.
Fazer Política não significa necessariamente estar inscrito num Partido Político, ser um Jovem do Partido, embora os Partidos Políticos sejam os Pilares das Democracias Modernas e se desejam cada vez mais fortes, não se devendo distrair e nem se eximir de ter nas suas fileiras cada vez mais jovens capazes, talentosos, os melhores e interessados em dar a sua contribuição para um Cabo Verde melhor.

Através da atividade cívica, os Jovens cabo-verdianos têm participado de forma intensa na vida política do País. Hélio Batalha o tem feito, mas também Batchard e Rapaz 100 Juíz, através do Rap. MAC 114 e o Movimento Sokols 2017 também o tem feito, através das suas reivindicações de manifestações da sociedade civil. Djodje, Hélida Almeida, o fazem sempre, através da música de intervenção. Os vários Movimentos Associativos de Safende, de Lém Ferreira, de Achadinha, de Achada Grande, de Ponta D’Àgua tem protagonizado uma intensa atividade cívica, através do trabalho comunitário com as crianças e os jovens em vários bairros da Cidade da Praia. E tantos outros músicos, movimentos associativos e jovens o tem feito nestas Ilhas, dando a sua contribuição para o aprofundamento da democracia e desenvolvimento do País.

Cavaco Silva, Ex Presidente de Portugal, outro que já conhece o caminho e o quão íngreme, espinhoso e doloroso ele possa ser, dedicou um capítulo inteiro do seu último livro sob o título Um Conselho aos Jovens – “É um conselho que hoje, por maioria de razão, voltaria a dar aos jovens: não interrompam os vossos estudos a troco de um lugar político (…) Na Política não há certezas e não se deve esperar gratidão ou reconhecimento. Estar na Política, sabendo que não se depende dela para ganhar a vida, que se é capaz de fazer outras coisas úteis à sociedade, dá-nos um sentido de independência e tranquilidade que é essencial. Ganhamos força acrescida para, estudando aprofundadamente os problemas, tomar decisões em consciência orientados exclusivamente pela defesa do interesse nacional e a realização do bem comum, alheios a todo o tipo de pressões e ao ruído mediático”.

Está claro que os Jovens não devem desistir do seu País e nem se eximir de fazer Política. Antes, devem ser cautelosos, porque na nossa Democracia ainda a Política é uma atividade de alto risco, muito vista como uma relação amigo/inimigo, envolto em grande desconfiança, não raras vezes, as pessoas que chegam ao poder pensam que são Donos do Estado, muitas perseguem e aniquilam o ganha-pão de cada um e, às vezes, mexem de forma grave com a vida das pessoas.

Coisam que volvidos mais de 25 anos sobre a instauração do Regime Democrático e Pluri-Partidário em Cabo Verde, não deviam estar a acontecer no nosso País. Afinal, como cantou Norbeto tavares “undi sta dimokrasia”?"