Tchalê Figueira fez aquilo que é o papel do artista
Abraão Vicente escreve na sua pagina de facebook...
"Arte& debate público
O caso da retirada dos quadros do artista plástico Tchalê Figueira é uma excelente oportunidade para debater vários temas: educação artística, educação sexual, pedagogia, curadorias artísticas, o papel das instituições na promoção da arte, da pedagogia do gosto e da estética, os tabus da sociedade cabo-verdiana, o nível do debate público em Cabo Verde…enfim a lista é interminável.
Tchalê Figueira fez aquilo que é o papel do artista: romper paradigmas, provocar debate, sacudir o politicamente correto. Só quem não conhece a obra e o percurso de Tchalê Figueira pode ficar escandalizado pelos dois quadros. A sexualidade, o erotismo, a provocação sempre estiveram presentes na obra de Tchalê. Isso quer dizer que se se está a procurar um culpado nessa “polémica”, o culpado é quem promoveu a exposição. Neste caso o próprio Ministério da Cultura e das indústrias criativas que fez a curadoria através da direção geral das artes e indústrias criativas. Nem Tchalê Figueira, nem qualquer outro artista deve adaptar a sua obra aos contextos expositivos. A obra do artista deve ser um hino à liberdade de expressão e de pensamento. As instituições têm-se de preparar para aceitar de forma aberta todas as formas de manifestação artística e para isso é preciso que tenham pessoal técnico e estrutura preparado para tal. Estar preparado significa também estabelecer ad inicium regras próprias e comunica-las. O que não se pode é promover a retirada de quadros de uma exposição já inaugurada sem que ninguém assuma a responsabilidade deixando um limbo onde todas as as divagações demagógicas são permitidas. O artista merece o nosso respeito e tem de ser tratado com toda a dignidade.
Por outro lado, tenho a convicção de que não podemos resumir um debate desta importância ao “gosto” de cada um dos intervenientes ou à moral ou nível de cultura dos cabo-verdianos. Também não podemos ceder à simplificação do debate em rótulos fechados. Isso de parte a parte. O debate não pode ser aos gritos em que uns chamam outros de hipócritas, incultos e falsos moralistas enquanto outros colam a imagem de imoralidades, depravação e obscenos ao artista e aos que o apoiam. “Ab alio expectes, quod alteri feceris”, o que fizeres, encontrarás. Estamos em pleno sec. XXI a intolerância é Intolerável.
Mais grave ainda, não podemos ceder à essa tentação de tentar arrastar para o campo político tudo o que seja debate público em Cabo Verde. É preciso ser claro e que cada instituição assuma a sua responsabilidade. Neste caso não há nenhuma conotação ou sentido de decisão que seja ou possa ser conotada com determinações políticas. A decisão da retirada não partiu do Ministério nem da sua equipa técnica. Isso tem de ficar claro. Qualquer leitura enviesada é fruto da imaginação de cada um.
Termino como comecei, esta é uma excelente oportunidade para debate público. Debate produtivo e útil é aquele onde se encontra algum equilíbrio de argumentos e se evita a diabolização dos que têm argumentos distintos dos nossos."
"Arte& debate público
O caso da retirada dos quadros do artista plástico Tchalê Figueira é uma excelente oportunidade para debater vários temas: educação artística, educação sexual, pedagogia, curadorias artísticas, o papel das instituições na promoção da arte, da pedagogia do gosto e da estética, os tabus da sociedade cabo-verdiana, o nível do debate público em Cabo Verde…enfim a lista é interminável.
Tchalê Figueira fez aquilo que é o papel do artista: romper paradigmas, provocar debate, sacudir o politicamente correto. Só quem não conhece a obra e o percurso de Tchalê Figueira pode ficar escandalizado pelos dois quadros. A sexualidade, o erotismo, a provocação sempre estiveram presentes na obra de Tchalê. Isso quer dizer que se se está a procurar um culpado nessa “polémica”, o culpado é quem promoveu a exposição. Neste caso o próprio Ministério da Cultura e das indústrias criativas que fez a curadoria através da direção geral das artes e indústrias criativas. Nem Tchalê Figueira, nem qualquer outro artista deve adaptar a sua obra aos contextos expositivos. A obra do artista deve ser um hino à liberdade de expressão e de pensamento. As instituições têm-se de preparar para aceitar de forma aberta todas as formas de manifestação artística e para isso é preciso que tenham pessoal técnico e estrutura preparado para tal. Estar preparado significa também estabelecer ad inicium regras próprias e comunica-las. O que não se pode é promover a retirada de quadros de uma exposição já inaugurada sem que ninguém assuma a responsabilidade deixando um limbo onde todas as as divagações demagógicas são permitidas. O artista merece o nosso respeito e tem de ser tratado com toda a dignidade.
Por outro lado, tenho a convicção de que não podemos resumir um debate desta importância ao “gosto” de cada um dos intervenientes ou à moral ou nível de cultura dos cabo-verdianos. Também não podemos ceder à simplificação do debate em rótulos fechados. Isso de parte a parte. O debate não pode ser aos gritos em que uns chamam outros de hipócritas, incultos e falsos moralistas enquanto outros colam a imagem de imoralidades, depravação e obscenos ao artista e aos que o apoiam. “Ab alio expectes, quod alteri feceris”, o que fizeres, encontrarás. Estamos em pleno sec. XXI a intolerância é Intolerável.
Mais grave ainda, não podemos ceder à essa tentação de tentar arrastar para o campo político tudo o que seja debate público em Cabo Verde. É preciso ser claro e que cada instituição assuma a sua responsabilidade. Neste caso não há nenhuma conotação ou sentido de decisão que seja ou possa ser conotada com determinações políticas. A decisão da retirada não partiu do Ministério nem da sua equipa técnica. Isso tem de ficar claro. Qualquer leitura enviesada é fruto da imaginação de cada um.
Termino como comecei, esta é uma excelente oportunidade para debate público. Debate produtivo e útil é aquele onde se encontra algum equilíbrio de argumentos e se evita a diabolização dos que têm argumentos distintos dos nossos."
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