E se fosse eu naquele autocarro?
Publicação da actriz Claúdia Jardim...
"O meu nome também é Cláudia. Também tenho 42 anos. Também tenho uma filha, que fará 8 anos em Março. Também sou da Amadora. Também já entrei sem título de transporte na Vimeca, na CP e no Metropolitano. Mas nasci branca. E isso transporta um privilégio que não escolhi. Para o qual não paguei bilhete. E ainda assim faço essa viagem sem que muita gente pareça importar-se. Reconhecer o privilégio não significa cristaliza-lo. Reconheço e combato-o. Combato-o no sentido que o que separa Jardim de Simões, Beatriz de Violeta são contingências de um à priori não escolhido. Somos duas Cláudias da Amadora, com 42 anos e filhas pequenas. E se fosse eu naquele autocarro? A história era a mesma? Não era. Sabemos bem que não era. Mas continuamos a assobiar para o lado e achar que Portugal não é um país racista e que está tudo muito bem. Continuamos nós os “brancos”. Nós que vivemos no privilégio. Nós que não somos nem negros, nem ciganos. A nós nunca nos doeu na pele. A nós nunca nos espancaram a mãe. Reconhecer um problema é o primeiro passo para o resolver. Já chega de fingir que não se passa nada. Que o caminho seja para diminuir a distância entre Jardim e Simões ."
"O meu nome também é Cláudia. Também tenho 42 anos. Também tenho uma filha, que fará 8 anos em Março. Também sou da Amadora. Também já entrei sem título de transporte na Vimeca, na CP e no Metropolitano. Mas nasci branca. E isso transporta um privilégio que não escolhi. Para o qual não paguei bilhete. E ainda assim faço essa viagem sem que muita gente pareça importar-se. Reconhecer o privilégio não significa cristaliza-lo. Reconheço e combato-o. Combato-o no sentido que o que separa Jardim de Simões, Beatriz de Violeta são contingências de um à priori não escolhido. Somos duas Cláudias da Amadora, com 42 anos e filhas pequenas. E se fosse eu naquele autocarro? A história era a mesma? Não era. Sabemos bem que não era. Mas continuamos a assobiar para o lado e achar que Portugal não é um país racista e que está tudo muito bem. Continuamos nós os “brancos”. Nós que vivemos no privilégio. Nós que não somos nem negros, nem ciganos. A nós nunca nos doeu na pele. A nós nunca nos espancaram a mãe. Reconhecer um problema é o primeiro passo para o resolver. Já chega de fingir que não se passa nada. Que o caminho seja para diminuir a distância entre Jardim e Simões ."
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