Nem sequer sabia que eu era a primeira dançarina negra a entrar no Saatsballet Berlim em 2018.
É francesa/ cabo-verdiana e foi a primeira bailarina integrar a prestigiada companhia nacional de ballet da Alemanha
CHLOÉ LOPES GOMES DIZ QUE A INSTRUTORA LHE MANDAVA “BRANQUEAR” A PELE
Ela foi, em 2018, a primeira bailarina negra a integrar a Staatsballet de Berlim, a mais prestigiada companhia de ballet da Alemanha. Mas o que para Chloé Lopes Gomes era no principio o concretizar de um sonho transformou-se rapidamente num pesadelo quando começou a ser perseguida pela sua instrutora que, para alem de comentários racistas, disse lhe obrigou durante dois anos a utilizar maquilhagem para branquear a pele, de forma a “misturar-se” com as restantes bailarinas. Eis a historia como ela mesma conta :
“ Nem sequer sabia que eu era a primeira dançarina negra a entrar no Saatsballet Berlim em 2018. Soube disso através de um jornalista que me entrevistou logo de seguida. Cresci numa família de raça mista – minha mãe era francesa e meu pai é cabo-verdiano – e fui educada a acreditar que que todos temos a mesma oportunidade.
Meu irmão e minha irmã também frequentaram prestigiadas academias de dança ( seu irmão Isaac Lopes Gomes é dançarino na Opera de Paris) e enquanto estudava e treinava nunca pensei na cor da minha pele . É claro que na Rússia onde estudei ballet não me sentia segura na rua porque pessoas olhavam para mim mas ganhei uma bolsa de estudo e meus professores gostavam do meu desempenho.
Mas cedo dei conta que audições e trabalhar nas companhias de dança são histórias diferentes. No principio de 2018, um dia depois da minha audição em Berlim, a instrutora de ballet disse a uma colega minha que tinha sido um erro me contratarem porque uma mulher negra ‘estraga a estética”.
Essa instrutora era a responsável pelo grupo e durante dois anos ela me descriminou e me humilhou por causa da cor da minha pele. Bombardeava-me com correções e quando chegou o dia da estreia da peça “Lago dos Cisnes” ela exigiu que eu usassemos pó branco. Disse-lhe que nunca ia parecer branca, eu sou negra. Ela simplesmente me disse que eu precisaria de usar mais pó. Foi horrível . A minha pele ficou de um tom cinza esverdeado.”
E por eu ser negra ela recusou dar-me o véu para a peça “La Bayadére”. Porque – disse ela- o véu era branco e eu era preta. Dizia diariamente que a cor da minha pele não era aceitavel esteticamente e até utilizou minha pessoa para recriar uma pintura na qual uma bailarina negra aparece rodeada de bailarinos brancos. A fotografia serviria – disse ela - para demonstrar que a companhia também “tem uma dessas”.
O DESPEDIMENTO
Em Outubro Chloé foi informada que seu contrato não seria renovado por causa da pandemia do Covid-19 mas a bailarina não acredita. Diz que foi despedida “ porque é negra” e acusa a instituição de não a defender do abuso e humilhação a foi sujeita durante dois anos. Numa carta assinada por vários colegas e dirigida à diretora da companhia denuncia o que chama de “clima de medo, insegurança, racismo e descriminação” na companhia de ballet nacional da Alemanha. Mais : Chloé quer seu trabalho de volta e se for preciso vai levar o caso a Tribunal.
REAÇÕES
Desde que fez publicamente essas denuncias em várias revistas europeis que a Staatsballet de Berlim está sob “fogo cruzado”. Vários bailarinos de renome como Misty Copeland e tambem a organização “Blacks in Ballet” condenaram a companhia, colocando-se ao lado da bailarina. O ministro Alemão da cultura, Klaus Lederer, confessou estar “horrorizado” com as acusações.
Quanto a Staatsballet, a companhia alemã publicou um comunicado onde diz que há um racismo estrutural na sociedade, e que “Saatsballet faz parte da sociedade,” esquecendo-se , porventura, de que as acusaçoes de abuso e racismo são contra uma pessoa específica, que tem rosto e nome . Ou será que é permitido alguem ser racista numa instituição porque , tal como o nazismo, “o racismo é estrutural" ? fonte:ok
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