Lúcia diz que leva uma vida difícil e cansativa mas ao final do dia terá valido a pena.
Lúcia Monteiro
UMA CAMPONESA NA "TXON D’HOLANDA"
Nascida há 58 anos em Martienne, no interior de Porto Novo, Santo Antão, aos 11 anos Lúcia já trabalhava a terra. Juntamente com o pa pegava na enxada, cultivava batata e com uma canequinha regava tabacos. Mais tarde, para criar as suas primeiras filhas, apanhava lenha para vender e pasto para animais depois de cada jornada de trabalho nas chamadas Frentes de Alta de Intensidade de Mão-de-obra.
Lúcia mudou para S.Vicente mas a vida de empregada domestica nunca lhe agradou. Há 11 anos ganhou do estado um pequeno terreno em Txon d’Holanda, no perímetro agrícola de Ribeira da Vinha, a uns 3 quilómetros de Mindelo, e lá levantou uma casinha de lata para onde ia todos os dias de manhãzinha e voltava no inicio da tarde com o produto da lavra.
Com a chegada da pandemia e com receio de se contagiar no transporte diário, Lúcia, que vivia em Fernando Pó com a familia, pegou nos netos e mudou para Txon d’Holanda.
À casinha de lata acrescentou um outro pequeno abrigo de madeira que cobriu de alcatifa e forrou de plástico e é lá que agora passa os seus dias, de segunda a sábado, cultivando a terra. Os netos entretanto voltaram à cidade com o inicio das aulas e Lúcia só volta a casa aos domingos para lavar e lavar a roupa e matar a saudade.
VIDA SOFRIDA
Lúcia diz que leva uma vida difícil e cansativa mas ao final do dia terá valido a pena. Por vezes – diz ela – “custa-me levantar para pegar na enxada porque minhas costas doem”.
Mas, habituada à luta, Lúcia todos os dias encontra novas forças para se erguer e retomar o trabalho. Diz que já “procurou o sustento” de varias outras formas, mas nunca deu certo. Com a agricultura ela tem, pelo menos, um raminho de couve ou grãos de lentilha para adicionar ao arroz. E se hoje não tiver 100 escudos - diz ela- sabe que os vai amanhã.
ACOSTUMADA
“Vivo assim e vivo tranquila porque já estou acostumada”, diz Lúcia, isolada e longe das seis filhas, dos netos e do marido que é marinheiro.
Lúcia levou e continua a levar uma vida dura, mas garante que o sacrifício valeu e continua a valer a pena. É graças a esses “sacrifícios” - diz ela - que criou as suas seis filhas . É ainda graças a esses sacrifícios que não falta couve, tomate ou cebola na mesa familiar. O que resta ela vende, e mesmo se for pouco como ela diz, sempre vai conseguindo “alguma coisa”. Alguma coisa para sobreviver.
Onda Kriolu/ Inforpress
COMMENTS