Com genialidade e força inovadora Orlando Pantera criou, com paciência e determinação, o seu próprio mundo musical
A LUZ DO COMETA
Conta Gloria Martins, antiga presidente do Instituto Cabo-verdiano de Menores, que um dia um jovem lhe apareceu no gabinete à procura de trabalho. Gloria perguntou-lhe pelas habilitações literárias e ele respondeu que só tinha o nono ano e não sabia fazer nada, mas como também disse que gostava de crianças Gloria decidiu dar uma oportunidade a esse jovem de sorriso aberto e ar de criança e o contratou como animador social.
Mas o que tem a ver o seu primeiro emprego com a evolução artística daquele que é considerado por muitos como o maior revolucionador da musica tradicional da ilha de Santiago depois de “Catchás” Carlos Alberto Martins?
Orlando Monteiro Barreto, vulgo Orlando Pantera, nasceu em S. Lourenço dos Órgãos em 1967 mas ate aos 9 anos viveu em Angola, longe das suas raízes.
Foi nesse primeiro emprego, percorrendo a ilha de Santiago recuperando crianças, que o autor de “Vida Mariadu” terá captado a filosofia profunda dos “homens do campo” que tão bem soube expressar nas suas composições. Foi também nesse período que terá notado a monotonia melódica do batuku e da tabanka, ritmos que enriqueceu com violão e voz, fundindo-as, mas sempre respeitando sua originalidade, com tonalidades do rock, do jazz, do pop e da própria musica africana e brasileira.
Com genialidade e força inovadora Orlando Pantera criou, com paciência e determinação, o seu próprio mundo musical, o seu próprio estilo capaz de conquistar o mundo e de influenciar uma geração de músicos e cantores cabo-verdianos ( a chamada “geração Pantera”)
O génio morreu aos 33 anos ( idade de Cristo) a 1 de Março de 2001, vitima de pancreatite aguda. 20 anos depois da passagem do cometa Pantera a sua influencia continua viva no planeta musical cabo-verdiano e alguns artistas vão pavimentando o caminho que ele traçou. A sua musicalidade, a sua extrema sensibilidade e ate o seu movimento corporal no palco continuam tambem vivas na memoria coletiva, embora, diga-se de passagem, pouco se tem sido feito para a recolha e salvaguarda do seu legado.
O que seria hoje a musica cabo-verdiana se ele não tivesse partido tão cedo ninguém saberá, ele que durante sua curta mas profícua passagem pela Terra transcendeu e ultrapassou as barreiras da musica tradicional cabo-verdina; Como ninguém também vai saber o ele podia ter sido com o seu enorme talento e sua força criativa.
Certo certo é que Cano Verde não vai ver tão cedo um novo Pantera. Como disse alguém, cometas que guiam com sua luz só passam de tempo em tempo. Orlando Monteiro Barreto talvez tenha passado antes de tempo, e antes de tempo morreu. Deixou um vazio e uma tocha para iluminar o caminho. fonte:ok
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