Chamo-me Veiga, mas, pode me chamar de Patxi.
No tempo que o Veiga passou por esta cidade!
-Senhor posso ver esta faca? É uma faca única, é linda meu caro amigo, onde arranjaste isso? Perguntou o policial sereno que acabara de chegar ao local da confusão que se instalara. O homem, visitante em questão, estava desorientado a assustar todas as pessoas que se encontrava a frente do antigo mercado de peixe, hoje mercado de cultura. A morte, essa coisa certa e futura, neste caso.
Queimamos os anos. Crescemos, mas, este senhor, que já não se encontra entre nós me ficou na cabeça desde a primeira vez que o vi a abordar uma pessoa. Partilho aqui.
Ouvi o seu nome pela primeira vez quando estava no sétimo ano do liceu. o nome, esse carimbo eterno. La estava a multidão a formar, chega dois agentes. Na confusão que se forma entre os agentes e o tal festeiro visitante do nosso município no tempo das festividades de Nhô Santo Amaro.
O homem se enfurece por alegado engano no troco, neste espaço de tempo a abordagem dos agentes deveria fazer toda a diferença. O homem é robusto e os agentes têm alguma dificuldade em derrubar a certeza do homem que pensa ter a razão ou pelo menos, imobiliza-lo, cada vez mais as pessoas se aglomeravam para assistir o espetáculo de um homem que fala a língua cabo-verdiana, aquelas mesmo das antigas, a cada palavra suscitava rizos e nele suava como desprezo da língua em plena semana de santo amaro, o individuo em questão, se sentia menos amado.
Passado meia hora, nem um avanço, o homem rinka faka di prega. Ouve-se gritos, os agentes puxam a arma, o homem não quer saber, e cada vez se exibe, pela atitude e pela força, que não tem medo dos agentes.
No meio da multidão chega o homem sereno, calmo e olhar confiante. O imenso homem, visitante da cidade, antes vila, ao ouvir o chefe, assim é chamado por um dos agentes, abaixa a faca, mas, aperta a mão contra o cano. O chefe o observa enquanto escutava o relato dos agentes.
-Chamo-me Veiga, mas, pode me chamar de Patxi. O chefe sorriu. Forasteiro acalmou, melhor, derrubou o homem com sorriso. Essa parte me marcou para sempre, é o primeiro policial que vi a sorrir diante de um homem armado e talvez violento e assustado.
-Senhor, posso ver esta faca, me empresta para ver, por favor? É uma faca única, é linda este Nabadja barba, meu caro amigo, onde arranjaste isso? O chefe veiga fez essas perguntas e pedido.
O rapaz da língua de fora que suscitava rizos ficou confuso sem saber o que fazer, emprestou a faca, depois de o chefe analisar a faca pediu ao visitante se poderia levar a arma até a esquadra para ser analisado e possivelmente ser guardado.
-Sim, claro. Respondeu timidamente.
-Mas, não se deve afrontar um homem dessa forma, reparem como ele fala a nossa língua de forma diferente, mas, bonita. O homem acalma ao ouvir os elogios sobre a língua.
- Não se pode obrigar um homem a ficar calmo quando se chateia, é verdade ou não? Perguntou o chefe. O visitante ficou confuso, mas calmo, e já sem a faca na mão, as pessoas passaram a assistir a forma diferente de abordagem do tal homem recém-chegado ao Tarrafal para ser comandante de policia.
-o senhor não me prende por desaforo? perguntou o visitante.
-não, prender como? o senhor foi vitima dessa festa Bedju, mas, vais ter que ir até esquadra para algumas perguntinhas, coisa pouca. Concordaram e o individuo entrou no forno (viatura guida em tempos por banda) e foi levado a esquadra. O homem saiu dali 24 hora depois e satisfeito com a tal pequena correção. provavelmente é a primeira vez que alguém o elogiou e o fez sentir as suas fraquezas ao jogar as mesmas contra ele.
Dessa forma pratica de se por no lugar o Patxi ou Veiga, resolveu aquele caso, não por os agentes serem incompetentes, mas isso tem tudo a ver com o homem de bom trato, homem leve, contra construção e arremessos de muros, citando a poeta Billy Gormam, ele não fazia a questão de mostrar que um policia tem a força, farda e a pele para vigiar e punir, pegando o titulo do tal livro de Michel Foucault.
Nesses dias, através do meu tio fiquei a saber da morte deste grande senhor. A morte é esse tal outro senhor sem pátria que nos apanha a todos. Acho que este homem viveu bem, por isso, a sua morte não pode ser noticia triste. É noticia pesaroso.
Como sempre a morte, a confirmação daquele futuro em frente ao mercado. Paz à sua alma.
Mário Loff
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