Mãe de 5 filhos já adultos, Joana recorda como os levava às costas ate a lixeira e depois os deitava dentro de caixotes para poder trabalhar.
Joana da Cruz
SOBREVIVENDO DO LIXO EM S.VICENTE
Todos os dias – de segunda a segunda – Joana da Cruz vai à lixeira municipal de Ribeira de Julião catar restos de que outros não querem, um trabalho que é, desde sempre, a maior fonte de rendimento desta santantonense de 52 anos que chegou a S.Vicente com a mãe aos 13 anos e uma das primeiras moradoras do bairro do Iraque que espontaneamente cresceu ao lado da lixeira.
No principio – décadas atrás - Joana acompanhava a mãe à lixeira a procura de algo para “desenrascar e aguentar a boca do estômago” mas a mãe há muito que está acamada e é Joana que se expõe sozinha aos perigos de esgravatar o lixo à procura principalmente de alimentos para os porcos que cria.
Mãe de 5 filhos já adultos, Joana recorda como os levava às costas ate a lixeira e depois os deitava dentro de caixotes para poder trabalhar. E é com o resultado desse trabalho - diz ela – que criou os filhos e os mandou para a escola sem contar muita ajuda do pai deles e sem depender de ninguém. E é esse trabalho que ainda hoje a permite cuidar da mãe e ainda ajudar os filhos nestes tempos difíceis.
UMA DAS MAIS INSALUBRES ATIVIDADE ECONÓMICA
Joana não se preocupa muito com os preconceitos ou estigmas de que quem vive da lixeira por vezes e vitima. Não tem vergonha do que faz e para ela vasculhar no lixo “é um trabalho digno” que lhe permite andar de cara levantada e sem depender de ninguém. Consciente dos perigos dessa atividade para a a saúde, diz contudo que não “coloca o pensamento no mal” porque o mal atrai o mal: “Devemos e agarrarmos — nos a Deus e pedir que nos guarde todos os dias”.
Joana diz que “Que Deus NOS guarde” porque não é só ela que passa os dias na lixeira de Ribeira de Julião. De acordo com a Inforpress , ao lado do lixo, vindo de tudo quanto é canto da ilha, encontra-se uma parte humana que vive e convive com o entulho, diariamente, e daí tira o pão de cada dia, sejam eles homens, mulheres, crianças e jovens com motivos diferentes para essa “sorte”.
Os motivos para “essa má sorte” podem ate não ser tão diferentes assim, e estão ligados a dois problemas distintos mas intimamente ligados :
O primeiro são as lixeiras a céu aberto existentes em todos os municípios de Cabo Verde, uma mazela ambiental sem solução à vista, e o segundo é a pobreza estrutural que obriga cabo-verdianos e cabo-verdianas a irem “buscar a vida” nessas lixeiras naquela que , na realidade, é uma das mais insalubres atividades económicas humanas neste primeiro quartel do sec. XXI .
por-Onda Kriolu/Inforpress
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