Nha Carolina e Nha Agostinha são apenas dois dos mais de 8 mil cabo-verdianos que residem oficialmente em S.Tomé e Principe
Rostos da Imigração/ S.Tomé
NHA AGOSTINHA E NHA CAROLINA EM MONTE CAFÉ
Os olhos sempre molhados de Nha Agostinha fixam um ponto invisível no espaço, enquanto, no fundo da memoóia, procura por lembranças cada vez mais distantes : A fome em Cabo Verde. A morte do marido e depois a morte da mãe. O navio que, nos anos sessenta, a transportou, a ela e ao seu filho ainda criança, ate as costas de S.Tomé, a mais de 3.700 quilometros da sua terra. O trabalho forçado nas roças de café e cacau, privada dos mais elementares direitos humanos. As sevícias corporais. O chiqcote. A exploração. O sofrimento. A saudade.
Sempre com seu lenço branco à cabeca, Agostinha Lopes Vaz, 91 anos, conta os dias recordando o passado em Monte Café, uma antiga plantação inclinada na montanha a norte da ilha de S.Tomé que hoje alberga cerca de 700 pessoas, na sua maioria cabo-verdianos ou de origem cabo-verdiana.
“ Mi Nbinha so pa kuatu anu, pa n’ka morri di fomi na Cabo Verde. Nunka Nka pensaba ma Nta fikaba”.
No seu “kriolu fundu” de Santiago, Agostinha recorda como ‘santou’ para S.Tomé durante a estiagem mortífera dos anos sessenta . Seu filho Emanuel, hoje com 55 anos, não tem recordações vivas de Cabo Verde mas, como muitos outros que foram menino para “terra lonji” , o sonho dele é um dia visitar a Cabo Verde para ir “conhecer de novo” sua terra natal. Um sonho que, para já, não pode realizar devido ao preço exorbitante do bilhete de avião . A mãe, por seu lado, vive “conformada” na terra lonje: ‘ E nha distinu” – diz ela, o mesmo destino que há mais 50 anos a colocou no porão do barco.
NHA CAROLINA
Carolina Correia Landim, 85 anos, igualmente residente na aldeia Monte Café , procura também no destino a explicacao de nunca ter voltado. Ela chegou a S.Tomé com o seu marido nos finais dos anos sessenta e por aqui ficou mesmo depois da morte do marido. Pensou em voltar – diz ela – mas depois lembrou que em Cabo Verde ja não tinha mais ninguém. “ Mininus tanbi ka dexa”.
“Mininus” são as dezenas de crianças, jovens e adultos de Monte Café que Agostinha, parteira de profissão, ajudou a trazer ao mundo. Hoje ela passa os deus dias a “ver a vida a passar” sempre sentada sobre o banco de madeira à porta da sua humilde casa construída de pedra.
POBREZA
Nha Carolina e Nha Agostinha são apenas dois dos mais de 8 mil cabo-verdianos que residem oficialmente em S.Tomé e Principe, muitos em situação de muita pobrema e extrema vulnerabilidade.
Os antigos “contratados” , esquecidos pelo governo de Portugal que desumanamente os ‘empurrou” para o trabalho forçado aproveitando-se da fragilidade social e economica do “povo das ihas”- os antigos contratados – cerca de 1200 idosos – recebem do governo de Cabo Verde uma pensao trimestral de 1.000 dobras ( cerca de 1.200 euros ) mas para a população de Monte Cafe, onde o tempo parece ter parado, Nha Agostina e Nha Carolina continuam a se debater diariamente com a falta de agua potavel, de luz , de assistência sanitária e de outros ingredientes básicos para uma vida condigna.
O destino- esse -o destino não muda . fonte:ok
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