África precisa de ter uma maior noção de “momento” e se posicionar como criadora do seu próprio tempo.
No passado dia treze a modelo cabo-verdiana Stephany Amado foi eleita segunda dama do concurso Miss Internacional. Por representar Cabo Verde, tirou vários elogios e aplausos dos cabo-verdianos, entretanto houve um comentário proferido pela ex-primeira-dama de Cabo Verde, Lígia Fonseca, que acabou por merecer a atenção e reação do artista Rahiz.
"Excelentíssima Senhora Ex Primeira Dama de Cabo-Verde, existe uma hora e um tempo para tudo. Com todo o respeito do mundo.
Antes de mais PARABÉNS, Stephany Amado. África está nas luzes da ribalta neste momento graças a ti. És parte da nossa bênção, pois qualquer conquista de qualquer território africano em que área for, por menor que seja, é uma conquista para África inteira. Dito isso, excelentíssima senhora ex primeira-dama Lígia Dias Fonseca, a sua intervenção sobre a vitória da nossa querida miss é de um conteúdo de grande profundidade e relevância. Demonstra profunda sensibilidade e sabedoria. Quero ressaltar que faz todo o sentido, MAS, tudo tem um tempo e uma hora. O padrão de beleza internacional segue sim uma agenda que corresponde com os interesses de quem lidera o sistema econômico mundial. É um facto! É inteligentemente usado no campo da “guerra de poder”, MAS temos que começar a ser mais sábios, pois temos apenas “intelectualizado” a nossa condição. África precisa de ter uma maior noção de “momento” e se posicionar como criadora do seu próprio tempo. Não sou de perto um intelectual e nem considero elogio me chamarem de um. Sou muito mais de observação, reflexão e oralidade do que de leitura, MAS leio o que acho fundamental. Talvez a nossa gente que ocupa cargos de relevância e influência precisa ler “arte da guerra” e implementar os ensinamentos dessa obra.
A arte da guerra é governada por cinco fatores constantes importantes. A lei moral, o Céu, a Terra, o Comando, método e disciplina. África peca no fator “Comando” vezes demais. Certas preocupações abordadas na sua intervenção, assim como a sua posição clara partidária, deixou transparecer agendas que nada têm a ver com a celebração do momento. Guiados na minha opinião por um impulsivo sentido de tempo e até de uma certa falta de empatia pela Steh. Atenção que a minha palavra vale o que vale, não julgo ou a condeno a sua intervenção, apenas a identifiquei e estou me questionando publicamente sobre as nossas intenções profundas em momentos destes. Longe de mim, estar a querer ser mal-educado ou desrespeitar o que vossa excelentíssima representa e representou para a nossa gente na condição de ex. primeira-dama da república, MAS eu sou da geração que está cansada, quer mudar o discurso e a imagem pública do nosso povo. Para isso é preciso termos coragem para sermos mal interpretados e chegarmos á frente com a nossa visão. Eu tenho uma menina de 16
anos, e é com visão nisso mesmo que a minha abordagem é feita com esta abrangência com base nos vários fatores em torno da "Beleza". Os média têm imenso poder e precisamos dominar o discurso nessa frente social e econômica a benefício do coletivo, MAS para isso precisamos todos de seguir o mesmo código.
Um deles seria, quando um de nós nos representa de forma elevada e sucede de forma positiva em algo, todos nós promovermos isso com a maior exaltação possível. Para isso precisamos de uma agenda coletiva, não partidária. A nossa querida, linda e fantástica Stephany Amado de vinte e poucos anos, de certeza, já esteve tempo suficiente exposta a stress, falta de apoio, desmotivação, insegurança, critica, desafio mental e espiritual para que numa hora de celebração do seu grande esforço, outras mulheres, nomeadamente mais velhas promovam discursos a “MAS”. As gerações passadas foram muito oprimidas e subjugadas, MAS hoje as nossas mulheres podem, sim, através da sua beleza, armadas com sabedoria, ganhar terreno na promoção de uma melhor imagem nossa. O nosso standard pode ser, lindas, com saúde e inteligentes, lindas por dentro e por fora. É o mundo que temos e a realidade que vivemos. Estamos em novos tempos, África precisa de promover a sua imagem como o standard. Tem de se promover como sendo sofisticada, capaz, linda, rica, sábia, competitiva e principalmente unida. Se África fosse uma mulher, ela seria a mais bela de todas e sem medo de o mostrar. A Steh representa, sim, o standard africano de beleza, pois África é o berço da cultura humana. África é o berço da humanidade e a mulher africana a mãe de todas as beldades, todos os génios e toda a sabedoria Humana. Temos de mudar a narrativa, temos de abraçar a nossa diversidade, caso contrário confirmamos o padrão criado sobre África como sendo somente o território de gente pobre, ignorante, selvagem, de pele escura, narizes largos, cabelos crespos e lábios grossos. Venderam essa imagem como sendo feio e quase desumano, e separarem-nos da nossa diversidade como o povo mais rico em cultura, beleza, riqueza e vida no seu estado mais natural e puro. Temos também mulheres na descrição que vossa excelentíssima fez, aliás, em cabo-verde temos imensas jovens que são exatamente como a Steh (me lembrando da minha mãe e irmã). Precisamos redefinir o que representa ou não a imagem de África e os africanos. Cabo-verde precisa de se posicionar de forma clara nessa questão.
Somos África ou somos apenas cabo-verde? Mulheres altíssimas, esqueléticas, com cinturas finas e bustos com medidas específicas cheias de saúde existem por toda a África. Sem qualquer dieta ou imposição de standards, elas são assim de natureza e repletas de vida. África precisa dominar as novas ferramentas e formas de poder, senão a nossa juventude irá ser bênção representando outras nações. Hoje a imagem e a propaganda em torno dessa imagem abrem portas, COMO SEMPRE ABRIU. As grandes nações entendem isso e dominam as outras porque se posicionam em todas as áreas. Ter poder sobre o standard de beleza é liderar a visão do mundo sobre si mesmo. O poder das mulheres é inegável e o próprio sistema montado sabe como o consumo depende bastante da forma como as mulheres se vêm, se sentem, se comportam e como vivem o mundo. Ter mulheres do nosso povo a liderar estes eventos e concursos de beleza SÓ É POSITIVO. Mesmo que a origem destes eventos tenha sido sempre para proteger uma agenda de subjugação de uns e exaltação de outros, o suprimir o interior e o foco no exterior e material. Já ouve o tempo que fui mais vítima do meu condicionamento mental e me manifestei de forma imprópria em momentos destes, como concursos de beleza, mas precisei repensar a minha forma de ver este jogo em que todos estamos para melhor contribuir para o nosso progresso. Numa primeira instância temos de sobressair positivamente em qualquer área criada por esta sociedade de consumo, pois é propaganda para nós. Depois, como usamos essa propaganda, como nos posicionamos e se decidiremos investir e criar uma realidade em que “nós” somos o centro e o poder máximo, parte da capacidade da nossa liderança de transformar essas oportunidades em benefício Coletivo. A beleza da nossa gente é um recurso natural, sejam elas magras ou voluptuosas, ganhem elas campeonatos de luta de sumo e pesem mais de 100 quilos ou concursos de beleza e pesem 50 quilos, todas elas são a nossa riqueza, o nosso ouro, diamante e petróleo. Nenhum povo pode se conectar com Deus se no seu subconsciente o seu Deus não se parece consigo mesmo.
O subconsciente humano é altamente fotográfico e visual, e é essa parte da mente que governa as nossas ações, emoções e sentimentos. Se a imagem não tivesse importância, o quadro de jesus branco e de cabelo loiro não estaria dentro da casa de tantos Africanos. Já imaginou se esse quadro tivesse a cara de um homem Africano ou de uma mulher Africana como a Steh?
Você na condição de ex. primeira-dama sabe bem a importância da imagem, pois já teve que ser a imagem feminina ao lado do chefe de estado. Você entende perfeitamente o que é a imagem para uma mulher e a sua sociedade. Você sabe o quanto atinge a segurança de uma mulher ser chamada de esquelética e ser objetificada, não é isso que as nossas "Steh" são, a nossa galinha e bem melhor que a galinha da vizinha, só temos de a tratar e alimentar bem e contra mim falo.
Para muitos de nós o homem perfeito é jesus e existir um quadro pintado da sua suposta cara foi também uma jogada de poder. Temos de ser sensíveis, mais dinâmicos, menos impulsivos, mais oportunos e não temos sido! Vejo sempre que os interesses de pensares individuais e os conflitos que deles são provenientes, lideram a prioridade daqueles, que com voz usam-na para defender agendas que não são de natureza Coletiva. Num momento que uma mulher Africana conquista o que a Steh conquistou é o momento que todas as mulheres da nossa comunidade deveriam mostrar TOTAL apoio, o “MAS” fica para outras alturas. Um tempo e uma hora para tudo excelentíssima na condição em que o nosso povo se encontra, é o motivo desta minha abordagem. Nós perdemos o jogo, estamos aprisionados, MAS continuamos a queixar da comida que vamos tendo no prato porque queríamos carne de gado que não procriamos, de pastos que não cultivamos.
Muita vida, saúde e amor para si e os seus e espero que entenda que é o meu amor incondicional pelo nosso povo que me move a fazer a abordagem, pois a minha verdadeira intenção é a mais pura possível. Apoiemos as nossas misses, a Steh e outros por vir com toda a nossa força.
IT'S AFRIKA TIME!"
Celso de Jesus Morais / Rahiz
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