De acordo com dados do INE divulgados em Outubro de 2022, 31.7% dos cabo-verdianos ( mais de 166 mil pessoas) são POBRES.
SOMOS REALMENTE LIVRES?
Cabo Verde celebra o 13 de Janeiro como Dia da Liberdade e da Democracia porque foi nesse dia, em 1991, que o povo exerceu o seu direito de voto nas primeiras eleições livres no país. 32 anos depois pode-se perguntar : Somos realmente livres ? Usufruímos da democracia?
As respostas variam invariavelmente, dependendo não só da noção do que cada um tem dos conceitos da Liberdade e da Democracia, mas também da posição em que oportunisticamente cada um ocupa dentro do “sistema democrático”.
Para os beneficiários do sistema e aqueles que estão no poder ou que gravitam em torno do poder - políticos, empresários, gestores, comissários, altos funcionários, etc- para estes a democracia é real porque de facto usufruem dessa liberdade que o só a democracia liberal e o poder económico podem proporcionar : liberdade de ir e vir, liberdade de viver bem, liberdade de escolher a casa onde morar, de educar os filhos, de ter acesso a clínicas privadas tanto nacionais como no estrangeiro, liberdade de comer o que quiser.
Para outros - que chamaríamos de "desiludidos da democracia"- a liberdade continua a ser apenas uma miragem ou um ideal ainda por cumprir.
Porque a liberdade não é apenas liberdade politica que em Cabo Verde quase se esgota na hora do voto. É muito mais : É ser livre do medo e da pobreza, é poder viver sem passar necessidades, é nao ter entraves para ter acesso à educação, aos serviços de saúde, aos transportes e à educação, a uma habitação digna e a um trabalho estável.
A liberdade de viver sem medo significa que ninguém deve recear o futuro ; Que ninguém deve ter medo do próprio governo, do estado, da polícia e dos próprios concidadãos. Liberdade de viver sem medo é não ter que colocar grade à janela com receio de ser assaltado, é andar livremente na rua sem receio de perder seus haveres. Ou sua vida.
LIBERDADE DOS POBRES
Liberdade de viver bem , sima tudu kriston, significa que “Tudu sinbron ten direito a si gota d’ága”.
É claro que, considerando a forma como as coisas funcionam - ou não funcionam - sempre haverá pessoas com mais recursos e pessoas com menos recursos - ou com menos ou mais facilidade a ter acesso aos recursos do estado - mas o importante é que cada um tenha acesso a essas necessidades básicas já referidas : uma habitação digna como está estipulada na Declaração Universal dos Direitos Humanos, ter um ganha-pão para se sustentar e sustentar a família, ter capacidade para enviar filhos à escola e não ter que escolher entre comer ou comprar medicamentos.
Os dados são do governo : 13% da população de Cabo Verde (78 mil cabo-verdianos de 12.200 famílias) vivem em situação de POBREZA EXTREMA (com pouco mais de 100 escudos por dia).
37% dos que estão nessa situação de extrema vulnerabilidade são crianças. Isso significa que todas essas crianças estão a perder incontáveis oportunidades que jamais poderão recuperar. Estão a perder o comboio do futuro. Caso se mantivermos o “status quo” será toda uma geração que irá nos cobrar pela nossa inércia e pela nossa incapacidade em gerir o presente e de desenhar o futuro.
De acordo com dados do INE divulgados em Outubro de 2022, 31.7% dos cabo-verdianos ( mais de 166 mil pessoas) são POBRES.
A pobreza limita as nossas escolhas, reduz a nossa qualidade de vida, agrava a nossa saúde, nos torna escravos do próprio sistema. Quando um ser humano não tem no bolso um tostão para sobreviver jamais pode ser considerado livre.
A chamada “Liberdade dos Pobres” de facto não faz sentido.
Dito isso, devemos aproveitar esse 13 de Janeiro para questionar o paradigma: Reformular uma nova linguagem mais autêntica e ciente dos direitos e liberdades de todos. Reformular a Democracia. fonte:ondakriolu
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