Eliana não falou sobre a razão do estado avançado da sua gravidez
Luto Eterno
A HISTÓRIA DE UMA MÃE CABO-VERDIANA QUE MATOU SEU BEBÉ
Eliana - o nome é fictício para proteger a identidade dessa mãe - Eliana diz que carrega consigo o maior pecado do mundo, a dor “mais grande” que alguém pode suportar, a ferida mais profunda que todos os dias todas as horas parece lhe dilacerar o coração .
Eliana matou o filho.
Mas comecemos do princípio.
Eliana nasceu na no dia 14 de fevereiro de 1990, no seio de uma família tradicional de camponeses da ilha de Santiago.
Nunca tinha saído de Cabo Verde quando, antes de completar 20 anos, conheceu um jovem cabo-verdiano residente em França e logo se casaram. Do casamento nove meses depois nasceu uma filha.
Durante 10 anos o casal viveu separado pela distância, ele em França e ela na ilha de Santiago, onde trabalhava como vendedeira.
Uma por vez por ano o marido a visitava, uma estadia de algumas semanas.
Em maio de 2016 o marido mais uma vez voltou de férias para Cabo Verde mas mal a viu porque passou quase o tempo todo nos braços de uma outra mulher. Eliana estava triste, ferida, mesmo sabendo que em novembro desse mesmo ano ela devia, juntamente com a filha, juntar-se ao marido em França.
Todas as papeladas para a viagem já estava em ordem, só restando uma pequena formalidade a ser resolvida em Dakar, para onde viajou em setembro de 2016.
E foi em Dakar que ela encontrou alguém, e pouco depois ficou a saber que estava grávida.
Quando ela para voltou para Cabo Verde logo tratou de fazer um aborto clandestino antes de, juntamente com a filha, viajar para Paris para se juntar ao marido .
E foi em Paris que logo na primeira consulta médica ela foi informada que estava grávida, num estado tão avançado que não dava para confessar ao marido.
NEGAÇÃO PARTILHADA
Eliana não falou sobre a razão do estado avançado da sua gravidez e o marido também não perguntou. Ela tinha vergonha, ele talvez medo de enfrentar a realidade. O certo é que até ao parto nunca falaram sobre o assunto.
O parto aconteceu no dia 13 de junho de 2017, quando Eliana estava sozinha no apartamento. O menino nasceu vivo, mas Eliana o afogou na banheira. Ainda foi feito um inquérito mas a conclusão foi a de que o bebé havia nascido morto, tal como Eliana havia afirmado.
Só que Eliana não podia viver com tamanho segredo, com tamanha dor que parecia querer fazer explodir seu coração. E confessou ao marido. E o marido a denunciou às autoridades.
Eliana foi presa e no dia 17 de fevereiro de 2020 - dia em que completou 30 anos - ela foi condenada a 7 anos de cadeia, três de menos de que a pena exigida pela acusação.
Eliana não disse nada quando ouviu a sentença. Apenas baixou a cabeça.
O que são sete anos quando a perda do filho é pena mais tenebrosa e pior de todas as cadeias?
O que são sete anos quando se vive nessa prisão perpétua do cárcere mental de dor e remorso?
Na cadeia Eliana continua a passar os dias a chorar . Como se em busca de perdão pelas lágrimas . Ou pela redenção. Um desconsolo eterno, por supostamente ter cometido o maior pecado do mundo. Como suportar algo assim?
Desde que Eliana foi presa ela também nunca mais viu a filha, que vive com os avós paternos. Quando ela a escreve cartas, o seu agora ex-marido as rasga.
Eliana veste-se sempre de negro. E ainda tem no dedo o anel de aliança.
AUTORA E VÍTIMA
Eliana nasceu e cresceu numa sociedade machista onde o adultério feminino é altamente reprimido e quando acontece é “abafado” no seio familiar.
A falta de diálogo no matrimônio, a intolerância familiar e social, tudo isso terá contribuído para que essa mãe, num momento de desespero e loucura, tirasse a vida do próprio filho.
A não ser que a autora do crime tenha algum problema mental, o que aparentemente não é o caso da Eliana, o ato cruel de tirar a vida de um filho dificilmente terá justificação, mas o certo é que acontece mais do que imaginamos. E pode ter uma explicação. E formas de o prevenir. fonte:ok
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