Nha Bibinha" como era assim conhecida, não foi mais de que uma simples mulher. Alegre, afável, comunicativa e de fino trato.
As provações da vida não travaram "Nha Bibinha" dos seus sonhos.
Em 1926, faleceu o pai. Em 1945, viria falecer o marido. Dois anos mais tarde, perdera dois dos seus filhos bem como as suas propriedades. Enfim, foi de facto, um período bem doloroso na vida de "Rainha de batuque". Mas, como se costuma dizer, no "fogo que se prova o ouro" "Nha Bibinha" demonstrou ser deste modo um "ouro provado" pelas chamas das adversidades.
Ora, 38 anos depois do seu desaparecimento fisico a sua memória continua ainda viva. Morreu a mulher e ficou a obra. Como cantam as batucadeiras: "Bibinha Kabral bai e dexa storia".
Por: Nataniel Vicente Barbosa e Silva
Recorde-se, que "Bibinha Cabral" nasceu em 1900 e faleceu em 14 de Junho de 1985.
Em síntese, quem foi "Bibinha Cabral"?
"Nha Bibinha" como era assim conhecida, não foi mais de que uma simples mulher. Alegre, afável, comunicativa e de fino trato. Nasceu em 1900, em Trás-os-Montes, uma pequena localidade situada a escassos quilómetros da então, Vila do Tarrafal. Não conheceu os banquinhos da escola como tantas outras garotas do seu tempo. Entre os 10 a 14 anos de idade entrara no mundo do“batuku & finason.” Tinha como mestres: "Nha Mana Kuladia, Martin, Djuna Landin, Mariana Koreia, Leonarda, Ramu, Davidi, Dondoninha, Barela, Konpleta, Sikera, Marku e Mendi Balantina". Através das suas letras "Nha Bibinha" cantava música que reflectia um pouco o aspecto social do seu pequeno ambiente.
Casamento
Em 1920, com a bonita idade de 19 anos, “ Bibinha Cabral" casa-se com um “merkanu” como então se dizia quem fazia a sua vida nos “States”. O casamento de "Bibinha" com "Neves Cabral", 16 anos mais velho, era na altura considerado normal porque representava uma certa estabilidade familiar. Dessa união nasceram seis filhos e uma filha.
Os anos foram passando e "Bibinha" foi ganhando mais sabedoria e mais consistência até se tornar uma verdadeira “mestra” na arte, de renome social. "Cabral" tinha com ela também de um outro importante aspecto: o espírito humano. Uma pessoa muito sensível, sempre atenta aos queixumes dos outros, tida na zona como uma verdadeira conselheira. Com os seus conhecimentos empíricos enraizados social e culturalmente, com destaque particularmente para as questões de "batuku estilo livre" tornou-se assim famosa em toda a ilha de Santiago, apresentando-se em casamentos, festas, cerimónias de baptismo, etc.
A vida “brindou-a” com alguns dias felizes depois do casamento, mas, como se sabe, na vida nem tudo são rosas, o marido era contra a sua participação nos batuques, pois que, considerava isto uma desonra para a família. Coisas do tempo! Assim, satisfazendo a vontade do esposo renunciou a partir dessa data o que mais gostava na vida: "batuku." "Bibinha Cabral" só retomou a sua actividade depois da morte do marido. Com a velhice já quase a bater às portas, "Bibinha" viria enfrentar uma outra contradiçao: colegas da sua idade, ridicularizava a sua presença aos batuques com jovens batucadeiras.
Ora, foi exactamente na velhice que essa mulher de fibra atingiu a plenitude do seu talento, conquistando, fama, amigos e respeito.
Uma verdadeira história de resiliência de uma mulher marcada por adversidades
As provações da vida não “travaram” "Nha Bibinha" na sua caminhada. Em 1926, a morte do pai. 19 anos mais tarde, a perda do marido. Dois anos depois , as perdas de dois dos seus filhos e das suas propriedades. Enfim, foi de facto, um período bem marcado por provaçoes na vida dessa mulher. Mas, como se costuma dizer, no "fogo que se prova o ouro"
Franzina de corpo "Nha Bibinha" tinha verdadeiramente uma alma grande, generosa e vigorosa. Como reconforto, o Município do Tarrafal construiu-lhe uma casa em Monte-Iria - Vila do Tarrafal. Sua irmã, Francisca da Veiga, “Nha Txitxa” também batucadeira, viva nessa altura foi o seu “anjo da guarda” quem lha dava um certo conforto.
Conta-se, que um tal "Sr. Lela" um comerciante antigo muito conhecido na Vila de então, muito seu amigo, foi também o seu “anjo protector” na medida em que este fornecia-lhe géneros alimentícios a "crédito", que ajudava-a a colmatar algumas dificuldades.
Malgrado as intempéries da vida e consequentemente a doença “Nha Bibinha" manteve sempre acesa as chamas da vida, mesmo na cama paralisada, vibrações positivas dela emanavam através do sorriso. O seu comportamento gentil, a alegria de viver e o aconselhamento às pessoas deixava muita gente impressionada.
A música era um bálsamo para a sua vida, um alívio para o seu sofrimento. "Nha Bibinha" foi uma mulher notável na história da música popular tradicional, especialmente na Ilha de Santiago onde o seu nome é hoje lendário com alguns grupos de batuque ostentando orgulhosamente o seu nome. Faltam efectivamente palavras para qualificar essa “diva” do povo. Apesar de analfabeta tinha consciencia nitida do aspecto social da sociedade cabo-verdiana. "Nha Bibinha" destacou-se desde a sua juventude até à sua velhice como "rainha do finason e do batuque". Também era conhecida por amigos mais próximos por “Mana Bibinha” o que denota o afecto que a mesma gozava junto dos seus. Antes de fixar a sua residência em Monte Iria, arrabaldes da Vila, "Mana Bibinha" vivia em Curral de Baixo, hoje um vale desértico. A nossa "diva" faleceu aos 85 anos de idade, a 14 de Junho de 1985, no Hospital Dr. Agostinho Neto, na cidade da Praia, já paralisada, em consequência de uma doença prolongada, deixando um vazio na nossa cultura e sem uma sucessora do seu nível. A casa de Nha Bibinha Cabral pode ser visitada em Monte Iria hoje ocupada por uma das suas sobrinhas.
For ever, "Mana Bibinha".
Tarrafal, 14 de Junho de 2023
Nataniel Vicente Barbosa e Silva
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