"Estou farto desta poesia" - Mario Loff

Farto estou desta poesia onde a flor murcha o amor

Que fique claro: o maior protesto de um homem, é a sua respiração. 

Kontudu 

Estou farto desta poesia, dessa mesmice,

Onde o amor precisa rimar com a dor,

Servindo de refúgio aos corações em crise,

Dos apaixonados que foram rejeitados, sem vigor.

Estou cansado desta poesia, dessa fantasia vazia,

Onde a métrica e a rima são previsíveis, triviais,

Onde o romantismo já não tem magia,

E a poesia se torna previsível, sem mais detalhes.

Estou saturado desta poesia que insiste em falar de amor,

Esse amor que parece um barco à deriva,

Serei também um pescador desse mar de ardor?

Nesta poesia, a trova chama o trovador de louco,

E na alma soa tão pouco, tão vazio,

O navegador e o amor já conhecem o sufoco,

Amar já não é um mistério, é um desafio.

Estou exausto dessa poesia que celebra a morte,

Onde a alegria se veste de luto,

Os verbos definham, sem suporte,

E as lágrimas são um produto em uso bruto.

Estou cansado dessa poesia onde tudo parece bem,

Onde o tempo flui como um trem desgovernado,

Onde as intenções são leves como um penacho ao além,

Mas os corações são áridos, desolados.

Farto estou desta poesia que não inova, não inspira,

Que só é consagrada quando as elites assim decidem,

Para além dos grandes nomes da poesia, que ainda respiram.

Estou farto desta poesia que adivinha e cansa,

Que usa palavras como cantiga, sem graça,

Que atinge corações indiferentes, sem esperança,

E conjuga o amor como uma farsa.

Essas rimas no feminino, essa monotonia exaustiva,

Onde o entusiasmo definha sem grande alento,

Onde as sílabas murcham ao ressuscitar, sem vida,

Farto estou desta poesia onde a flor murcha o amor,

Porque só provoca "dor, sem ardor"

Que farei se estou farto desta dor sem cor?

Talvez escreva uma poesia diferente, na un nobu parmanhan sarbaxu di udor.

por: Mario Loff