Quando a Virtude é Um Crime - por Mário Loff

O que antes era o esteio dos valores familiares e sociais parece ter desabado, substituído por uma celebração do que é torto, do que corrompe.

De repente, neste país, parece que o mundo foi virado do avesso. Assistimos ao triunfo da inversão, onde homens claramente criminosos, reincidentes e desprovidos de ética, são elevados à condição de modelos, enquanto aqueles que carregam a honra e a probidade são continuamente esmagados por um sistema que os devora.

Há algo visceralmente errado neste cenário. O que antes era o esteio dos valores familiares e sociais parece ter desabado, substituído por uma celebração do que é torto, do que corrompe. Ser incompetente tornou-se mérito; ser astuto, uma virtude; e a mentira, o novo idioma oficial. O poeta nigeriano Ben Okri disse uma vez: "O mundo está repleto de almas que se deixaram enganar pela ilusão do poder, mas o verdadeiro poder reside na integridade que não se pode comprar."

Quem ousa ser levado ao tribunal emerge como herói de uma tragédia absurda, defendido por um povo que confunde impunidade com nobreza. Enquanto isso, os tribunais, cada vez mais desiguais, oferecem justiça para os ricos e um simulacro de esperança para os pobres. A lentidão e a parcialidade corroem a fé no Estado de direito, tornando-o um teatro onde os piores atores triunfam.

A consequência é brutal: os que deveriam zelar pelo futuro destas ilhas estão a cumprir o destino de uma curva torta, levando tudo — valores, sonhos e justiça — para o fundo de uma ravina sem retorno. Como observou Charles Baudelaire, "A pior trapaça do Diabo é convencer-nos de que ele não existe." Talvez o nosso diabo moderno não tenha chifres, mas leis distorcidas, discursos inflamados e olhares de indiferença.

Cabe-nos perguntar: por quanto tempo resistiremos? Por quanto tempo continuaremos a louvar os que nos destroem e a sacrificar os que ainda se mantêm firmes na defesa da dignidade? Talvez, como já apontara Maya Angelou, "Coragem é a virtude mais importante, pois todas as outras dependem dela." Será preciso coragem, e muita, para que o país encontre o caminho de volta — não ao passado, mas a um futuro onde os valores invertidos possam ser, enfim, restaurados.