Há dezoito mil ilhas no mundo e eu insisto em ser uma ilha em fuga
Um bom grogue.
Há muito tempo, alguns homens eram espiões pacíficos. Hoje, apenas são pacientes com sopros de vencedores visionários. Vamos modernizar a tapadinha, e cada ser virá a ser iluminado, seguindo as incitações de Yuval Noah Harari, entre as iogas e um bom Grogu Fedi de Casa Ka. Eu estou dentro. Olá, este é o meu torrão e voltei aos meus textos.
Embora nenhuma voz cavalgue diferente em relação aos antigos tempos, quem diga são as ondas que se repetem no cais velho da cidade. Negam-se as rádios e só as redes andam a pescar os desconhecidos, nunca vistos a partilhar os seus avatares, nunca antes divisíveis.
Há dezoito mil ilhas no mundo e eu insisto em ser uma ilha em fuga, mas estes meus pés insistem neste torrão, terra comprometida dos poetas, velhos poetas sem nomes, que insistem em lutar uma guerra de nação, fenómenos, grande terra, de um projeto insistente, projeto voador. Se as palavras não se ajustarem numa só fila, não será um projeto, senão uma quimera, ali se justifica a imortalidade dos poetas.
Digo com verdade que só agora me lembrei de que o amado Cortázar era amante de outro desporto e tinha apenas respeito pelo Maradona, que nasceu depois dele ser tão presente nas letras e em frequentes polémicas, inclusive com o mundo do futebol. O escritor acha o futebol uma estupidez; talvez a própria morte seja, sim, uma estupidez, a morte de Maradona não é nada poética. Por aqui, a novela não tem morte nem forma de água, apesar de vencedores de fama e outros difamadores.
Maradona é uma lenda, Madonna é frágil e, antigamente, qualquer objecto passava-lhe entre as pernas, pernas enormes. Tarrafal, aos poucos, deixa de ser uma fenda presa em Santiago, trabalho duro que veio de longe, quase fogo, garganta presa antes, feito a destreza solta que alguém recusa apanhar. Quem, quem segura?
São novos homens que ocupam a parte baixa do acento agudo do banco falido. Um dia, o poeta imortalizou as queixas do velho cheque, o homem raso e limpo de beijos, tanto amor para dar e disposto a entregar a quem quer, talvez a uma mulher.
Na praça há ruídos cada vez mais sem dono, que nunca estiveram por ali, a não ser de passagem, e temos de lhes dar o mérito. Eles esforçam-se, vão aprender a fixar o dito rabo no assento. Ninguém nasce disposto a quebrar, até a chegada das repetidas noites em que o crepúsculo é obrigado a nascer nos olhos, e as olheiras falam.
É hábito em Espanha os adversários receberem quem foi vencedor, uma recepção de horizontalidade. É claro que Barcelona já não é aquela maravilha de “toco toco” de outros tempos. Temos a falta de imagens tipo Messi ou um Lamboska humorado. Não tenham dúvidas, não há Messi, não há Messias, é preciso limpar azias e tudo será clarão, caminho de concórdia.
O corpo só celebra o inevitável, o levantamento que anima o próprio entusiasmo de quem se encontra por dentro. O inevitável dói-me nas entrelinhas, mas passa. Haja nível para tanta mão no ar, o toque despropositado nas costas mancas, feitos de um deus sem Olimpo. A mim, o pássaro azul de Charles Bukowski tem-me tocado, batido no coração, quer sair, mas eu recuso terminantemente.
Mário Loff
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