Cabo Verde. Que nunca me despertou curiosidade e que, hoje, ao deixá-lo, só me faz querer voltar. Ou ficar.
Texto de Beatriz Dias, uma portuguesa que esteve em Cabo Verde recentimente, na cidade do Tarrafal de Santiago, esteve a maior parte do tempo a fazer serviso vuluntariado com as crianças de Delta Cultura.
Fui a Cabo Verde num suspiro de tempo.
-
Fui porque sim.
Fui para fugir. Para devorar os livros que comecei a acumular.
Fui para travar a corrida do dia-a-dia, com a urgência que uma respiração boca a boca exige.
Fui em busca de algum sossego. De um telemóvel desligado, longe de notificações que matam conversas.
Fui para me corrigir e testar a minha humildade, para ver, fazer e aprender. Para chorar, se me apetecesse. Para não me preocupar e para me lembrar de como é bom, de vez em quando, escolher só encolher os ombros.
Fui porque tive de ir, porque precisei de ir, porque quis muito ir.
-
Não sei bem como decidi que ia. Mas lembro-me que, sem dar ouvidos às “desculpas” de sempre, comprei o bilhete, numa dessas noites de olheiras. Forcei-me a ignorar o sentimento de culpa por abandonar as minhas responsabilidades e, depois de contornar a mudança de destino forçada, fui.
-
Sempre achei que era pró em gerir o meu tempo, que era canja fazer cambalhotas com o meu horário. Sempre achei que, dentro do possível, consegui estar presente onde devia estar. Só me importava em não falhar às minhas pessoas, mesmo que isso implicasse anular-me. E achava que não havia problema nisso. Que eu podia esperar. Que a minha felicidade se resumia na felicidade que tentava proporcionar aos outros, mesmo que isso significasse adiar as minhas corridas, deixar de ter tempo para me ouvir, para fazer o que me apetecesse só a mim nesse dia. E foi quando encontrei o meu ponto de saturação- que pensei não existir- que, numa atitude egoísta, fui.
-
Cabo Verde.
Que nunca me despertou curiosidade e que, hoje, ao deixá-lo, só me faz querer voltar. Ou ficar.
-
Foi Cabo Verde que me fez perceber que não faz mal se, por vezes, também precisarmos de parar. Que não faz mal não sermos de ferro, que não há problema em abrandar, se assim tiver que ser. Nem tudo é mau quando temos de abrandar a velocidade dos dias. Não faz mal, se às vezes, impusermos um travão no nosso ritmo com a pergunta: “Estou feliz a fazer isto?”
-
Cabo Verde foi uma sorte. Uma lição. Uma benção. Um excerto de porrada emocional. Um livro de histórias que quero contar e um álbum de memórias só minhas. Um rolo de fotografias visuais.
-
Cabo Verde foi sangue quente, foi calor e música a toda a hora. Foi funaná, crioulo e dança em qualquer sítio. Cabo Verde foi pé sujo e chinelos pelo ar. Foi uma felicidade constante, um sentimento de plenitude.
-
Soube a alma cheia, mas a uma sensação de quase impotência. Foi uma procura pela aprendizagem constante, uma sede de viver tudo, ao segundo. Cabo Verde foi um respirar fundo, um engolir a seco. Foi um fechar de olhos, sem nunca deixar de ver bem.
-
Cabo Verde ajudou-me a confiar que vai correr tudo bem, deu-me paz, trouxe-me uma perspetiva em grande plano.
Veio dar-me espaço, tempo e ar.
-
Trouxe-me a beleza da simplicidade das coisas, mostrou-me como tudo acaba por ser fácil, como do nada se faz muito.
-
Cabo Verde veio para me ensinar que, só por si, parar pode ser só uma forma de avançar.
-
Provou-me que juntar quatro caricas a um pacote de manteiga resulta num carrinho para brincar e mostrou-me como uma bolacha se pode dividir em várias bolachas. Que uma caneta partida não se deita fora quando o filtro ainda escreve.
-
Cabo Verde do Coqueiro, do Grogo, do Bahia Verde, das caipirinhas, do Sol e Luna.
Cabo Verde da Praia do Presidente, do Mar di Baixo e da Praia Grande. Cabo Verde da cadela Sofia, das Hiluxes. Cabo Verde da Cachupa, da Espaguetada e do Arroz com todos. Cabo Verde do quadradinho, das invasões à cabine dos DJ’s, da subida ao palco com as Batukaderas. Cabo Verde dos Tubarões, das jantaradas e das pequenas aventuras. Cabo Verde das baratas e ratos, lagartos e lagartixas, cabras, vacas e porcos. Do berlinde. Do Parque das Merendas e do Mercado. Das mangas e bananas, da água de coco e dos escaldões.
-
Cabo Verde.
Do sentimento.
Da partilha.
Da fé.
Das conversas. Dos abraços espontâneos.
De medos pontuais.
Das lágrimas engolidas e dos murros no estômago.
Do pôr de sol que deixava todos calados.
Cabo Verde das Strelas. Da calma. Dos convívios.
Cabo Verde do amor ao futebol, da euforia pelo mar, dos cumprimentos calorosos. Da simplicidade e da espontaneidade.
-
Cabo Verde.
Da fome.
Dos sorrisos e das mãos dadas.
Dos olhares telepáticos. Dos abraços mudos e das atitudes sem vergonha.
Do sentimento de saudade antecipado, da mistura de sensações, num só dia.
-
Cabo Verde das pessoas.
Dos que já são meus, que me desenganaram quando achava que ia sozinha.
Cabo Verde de cada criança. De cada nome que, passe o tempo que passar, não vou esquecer. De cada colo, de cada árvore trepada, de cada conversa pelo olhar.
De cada soluçar, das t-shirts brancas que ficaram transparentes das cascatas de lágrimas.
-
Deste aperto no peito que espero que o tempo fique encarregue de gerir. Deste nó de não querer falar, mas do entusiasmo que não consigo esconder a contar tudo.
-
Cabo Verde dos sonhos. Da ignorância, inocência e da felicidade.
-
Cabo Verde do Gilson, da Romila, da Jassica, do Nené, da Kutxas, do Samir, da Vinny, do Zito, do Florian e da Marisa. Do Tois condutor, do Zé da Cachoeira.
-
Das idas religiosas ao Tátá.
Do mar à noite.
Cabo Verde da Serenata.
Do ritmo. Da alegria na rua.
Cabo Verde do Matadouro. Da Praça. Do Espedjo, do Vista Mare e do Santiago Lounge. Do Campo de Concentração.
Cabo Verde da Árvore.
-
Cabo Verde do Alejandro García e da sua Arte. Da sua descontração e simplicidade admiráveis.
Cabo Verde do Manel e das suas lágrimas em noites bonitas. Da dor nas costelas. Da sua irreverência e assertividade. Da sua sensibilidade e sentido de humor. Das suas “boleias” até casa. (Também tu és um rapaz de se tirar o chapéu!)
Cabo Verde da Susana, de sorriso imediato, tão bem alinhada no nosso espírito. (Obrigada pelo caril cozinhado com carinho!)
-
Cabo Verde de uma casa com portas curtas, sem água quente e de chuveiro na rua. De uma casa de colunas ligadas, de petiscadas e churrascadas, de Rosário e garrafas, de sofás. De impulsos, de bolachas, beijinhos de boa noite e pequenos-almoços-surpresa.
Uma casa feita lar desde o primeiro dia.
Pela Cristina.
Pela Rute.
E pela Adriana.
-
A Tininha, com a sua natural maturidade, mostrou-me o quão velha e chata eu consigo ser aos 21 anos. Que é preciso apreciar o momento, que, às vezes, o “depois” não tem de interessar no “agora”. Mostrou-me que devemos, em qualquer fase da nosssa vida, procurar o que nos preenche, que é fácil descomplicar, que é possível ter o melhor dos dois mundos, com serenidade. Obrigada pela tua descontração, por saberes distinguires os momentos, pelo teu equilíbrio e sensação de segurança com um "Tá-tudo".
A Ruti, proprietária da boutique mais fashion do Tarrafal, foi a primeira a abrir-me os braços e eu continuo sem conseguir explicar como aquele momento em que falei com ela pela primeira vez me provou que tudo ia correr bem! Bem haja por deixares que a força do teu coração destruísse essa armadura aparente, na noite em que o verde dos teus olhos se encheu de água. Não me vou esquecer da tua preocupação, demonstrada entre brindes. És uma força da natureza, com a delicadeza de uma brisa.
A Nana.
A miúda que me arrancou as maiores gargalhadas. Que me abraçou com mais força. Que me deu a mão, sem lhe pedir, no momento certo. Que me disse, numa noite mesmo antes de adormecer, “És especial”.
Uma miúda que é impossível não admirar ainda mais, depois de conhecermos a história dela. Uma miúda que me provou os poderes da telepatia. A miúda dos dejá-vus, dos trevos, dos arrotos. Das refeições preparadas com o maior amor. A miúda dos “Estás bem? Diz a verdade”. A miúda que me viu adormecer das formas mais aleatórias, que alinhou em cada parvoíce, que, como eu, chorava num segundo e ria-se, no seguinte. A miúda do coração de elástico.
A miúda que, ao terceiro dia, me disse que “quando crescesse” queria ser "como eu". O que ela não sabe é que não precisa mais nada para isso. (És tão melhor que eu!)
-
Por tudo isto: Cabo Verde são vocês.
Com cada peculiaridade que vos distingue, com tudo aquilo que me conseguiram fazer sentir, com esta história que não temos que explicar, porque sabemos.
Cabo Verde é a nossa cumplicidade. A nossa euforia. O nosso companheirismo. É esta preocupação mútua, esta felicidade partilhada, este à vontade tão imediato e genuíno.
-
Cabo Verde.
Foi tudo o que me fez viver e foi tudo o que me mostrou. Tudo o que me deu e tudo aquilo que de mim ficou lá.
Cabo Verde são as minhas novas nódoas negras, que vão doer por muito tempo. Mas é também o conjunto das cores mais bonitas da minha alma.
-
Cabo Verde é esta visão nova. É esta sensação que os meus lugares já não parecem os mesmos. Que tenho uma casa muito cheia. É este pensamento sempre lá. Esta vontade de já não querer parar, esta prova de que todos devemos procurar a nossa missão. É esta gratidão à minha família por compreender. O pedido de desculpas aos amigos de quem estive desligada.
-
Cabo Verde é esta cicatriz boa.
Cabo Verde é esta sensação de que tudo fez sentido. Que tudo se alinhou. Que tudo foi por uma razão.
-
Cabo Verde é esta lembrança do Joel, a cada noite estrelada. Porque em resposta a este miúdo: Na minha terra também há estrelas. E, sabes, é neste céu brilhante que está a nossa ponte.
-
É verdade: Fui a Cabo Verde e voltei. Mas tenho esse céu para me lembrar que há sempre mais do que este lado.
-
Cabo Verde,
Até um dia - num desses sopros de tempo.
Fui a Cabo Verde num suspiro de tempo.
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Fui porque sim.
Fui para fugir. Para devorar os livros que comecei a acumular.
Fui para travar a corrida do dia-a-dia, com a urgência que uma respiração boca a boca exige.
Fui em busca de algum sossego. De um telemóvel desligado, longe de notificações que matam conversas.
Fui para me corrigir e testar a minha humildade, para ver, fazer e aprender. Para chorar, se me apetecesse. Para não me preocupar e para me lembrar de como é bom, de vez em quando, escolher só encolher os ombros.
Fui porque tive de ir, porque precisei de ir, porque quis muito ir.
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Não sei bem como decidi que ia. Mas lembro-me que, sem dar ouvidos às “desculpas” de sempre, comprei o bilhete, numa dessas noites de olheiras. Forcei-me a ignorar o sentimento de culpa por abandonar as minhas responsabilidades e, depois de contornar a mudança de destino forçada, fui.
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Sempre achei que era pró em gerir o meu tempo, que era canja fazer cambalhotas com o meu horário. Sempre achei que, dentro do possível, consegui estar presente onde devia estar. Só me importava em não falhar às minhas pessoas, mesmo que isso implicasse anular-me. E achava que não havia problema nisso. Que eu podia esperar. Que a minha felicidade se resumia na felicidade que tentava proporcionar aos outros, mesmo que isso significasse adiar as minhas corridas, deixar de ter tempo para me ouvir, para fazer o que me apetecesse só a mim nesse dia. E foi quando encontrei o meu ponto de saturação- que pensei não existir- que, numa atitude egoísta, fui.
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Cabo Verde.
Que nunca me despertou curiosidade e que, hoje, ao deixá-lo, só me faz querer voltar. Ou ficar.
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Foi Cabo Verde que me fez perceber que não faz mal se, por vezes, também precisarmos de parar. Que não faz mal não sermos de ferro, que não há problema em abrandar, se assim tiver que ser. Nem tudo é mau quando temos de abrandar a velocidade dos dias. Não faz mal, se às vezes, impusermos um travão no nosso ritmo com a pergunta: “Estou feliz a fazer isto?”
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Cabo Verde foi uma sorte. Uma lição. Uma benção. Um excerto de porrada emocional. Um livro de histórias que quero contar e um álbum de memórias só minhas. Um rolo de fotografias visuais.
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Cabo Verde foi sangue quente, foi calor e música a toda a hora. Foi funaná, crioulo e dança em qualquer sítio. Cabo Verde foi pé sujo e chinelos pelo ar. Foi uma felicidade constante, um sentimento de plenitude.
-
Soube a alma cheia, mas a uma sensação de quase impotência. Foi uma procura pela aprendizagem constante, uma sede de viver tudo, ao segundo. Cabo Verde foi um respirar fundo, um engolir a seco. Foi um fechar de olhos, sem nunca deixar de ver bem.
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Cabo Verde ajudou-me a confiar que vai correr tudo bem, deu-me paz, trouxe-me uma perspetiva em grande plano.
Veio dar-me espaço, tempo e ar.
-
Trouxe-me a beleza da simplicidade das coisas, mostrou-me como tudo acaba por ser fácil, como do nada se faz muito.
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Cabo Verde veio para me ensinar que, só por si, parar pode ser só uma forma de avançar.
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Provou-me que juntar quatro caricas a um pacote de manteiga resulta num carrinho para brincar e mostrou-me como uma bolacha se pode dividir em várias bolachas. Que uma caneta partida não se deita fora quando o filtro ainda escreve.
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Cabo Verde do Coqueiro, do Grogo, do Bahia Verde, das caipirinhas, do Sol e Luna.
Cabo Verde da Praia do Presidente, do Mar di Baixo e da Praia Grande. Cabo Verde da cadela Sofia, das Hiluxes. Cabo Verde da Cachupa, da Espaguetada e do Arroz com todos. Cabo Verde do quadradinho, das invasões à cabine dos DJ’s, da subida ao palco com as Batukaderas. Cabo Verde dos Tubarões, das jantaradas e das pequenas aventuras. Cabo Verde das baratas e ratos, lagartos e lagartixas, cabras, vacas e porcos. Do berlinde. Do Parque das Merendas e do Mercado. Das mangas e bananas, da água de coco e dos escaldões.
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Cabo Verde.
Do sentimento.
Da partilha.
Da fé.
Das conversas. Dos abraços espontâneos.
De medos pontuais.
Das lágrimas engolidas e dos murros no estômago.
Do pôr de sol que deixava todos calados.
Cabo Verde das Strelas. Da calma. Dos convívios.
Cabo Verde do amor ao futebol, da euforia pelo mar, dos cumprimentos calorosos. Da simplicidade e da espontaneidade.
-
Cabo Verde.
Da fome.
Dos sorrisos e das mãos dadas.
Dos olhares telepáticos. Dos abraços mudos e das atitudes sem vergonha.
Do sentimento de saudade antecipado, da mistura de sensações, num só dia.
-
Cabo Verde das pessoas.
Dos que já são meus, que me desenganaram quando achava que ia sozinha.
Cabo Verde de cada criança. De cada nome que, passe o tempo que passar, não vou esquecer. De cada colo, de cada árvore trepada, de cada conversa pelo olhar.
De cada soluçar, das t-shirts brancas que ficaram transparentes das cascatas de lágrimas.
-
Deste aperto no peito que espero que o tempo fique encarregue de gerir. Deste nó de não querer falar, mas do entusiasmo que não consigo esconder a contar tudo.
-
Cabo Verde dos sonhos. Da ignorância, inocência e da felicidade.
-
Cabo Verde do Gilson, da Romila, da Jassica, do Nené, da Kutxas, do Samir, da Vinny, do Zito, do Florian e da Marisa. Do Tois condutor, do Zé da Cachoeira.
-
Das idas religiosas ao Tátá.
Do mar à noite.
Cabo Verde da Serenata.
Do ritmo. Da alegria na rua.
Cabo Verde do Matadouro. Da Praça. Do Espedjo, do Vista Mare e do Santiago Lounge. Do Campo de Concentração.
Cabo Verde da Árvore.
-
Cabo Verde do Alejandro García e da sua Arte. Da sua descontração e simplicidade admiráveis.
Cabo Verde do Manel e das suas lágrimas em noites bonitas. Da dor nas costelas. Da sua irreverência e assertividade. Da sua sensibilidade e sentido de humor. Das suas “boleias” até casa. (Também tu és um rapaz de se tirar o chapéu!)
Cabo Verde da Susana, de sorriso imediato, tão bem alinhada no nosso espírito. (Obrigada pelo caril cozinhado com carinho!)
-
Cabo Verde de uma casa com portas curtas, sem água quente e de chuveiro na rua. De uma casa de colunas ligadas, de petiscadas e churrascadas, de Rosário e garrafas, de sofás. De impulsos, de bolachas, beijinhos de boa noite e pequenos-almoços-surpresa.
Uma casa feita lar desde o primeiro dia.
Pela Cristina.
Pela Rute.
E pela Adriana.
-
A Tininha, com a sua natural maturidade, mostrou-me o quão velha e chata eu consigo ser aos 21 anos. Que é preciso apreciar o momento, que, às vezes, o “depois” não tem de interessar no “agora”. Mostrou-me que devemos, em qualquer fase da nosssa vida, procurar o que nos preenche, que é fácil descomplicar, que é possível ter o melhor dos dois mundos, com serenidade. Obrigada pela tua descontração, por saberes distinguires os momentos, pelo teu equilíbrio e sensação de segurança com um "Tá-tudo".
A Ruti, proprietária da boutique mais fashion do Tarrafal, foi a primeira a abrir-me os braços e eu continuo sem conseguir explicar como aquele momento em que falei com ela pela primeira vez me provou que tudo ia correr bem! Bem haja por deixares que a força do teu coração destruísse essa armadura aparente, na noite em que o verde dos teus olhos se encheu de água. Não me vou esquecer da tua preocupação, demonstrada entre brindes. És uma força da natureza, com a delicadeza de uma brisa.
A Nana.
A miúda que me arrancou as maiores gargalhadas. Que me abraçou com mais força. Que me deu a mão, sem lhe pedir, no momento certo. Que me disse, numa noite mesmo antes de adormecer, “És especial”.
Uma miúda que é impossível não admirar ainda mais, depois de conhecermos a história dela. Uma miúda que me provou os poderes da telepatia. A miúda dos dejá-vus, dos trevos, dos arrotos. Das refeições preparadas com o maior amor. A miúda dos “Estás bem? Diz a verdade”. A miúda que me viu adormecer das formas mais aleatórias, que alinhou em cada parvoíce, que, como eu, chorava num segundo e ria-se, no seguinte. A miúda do coração de elástico.
A miúda que, ao terceiro dia, me disse que “quando crescesse” queria ser "como eu". O que ela não sabe é que não precisa mais nada para isso. (És tão melhor que eu!)
-
Por tudo isto: Cabo Verde são vocês.
Com cada peculiaridade que vos distingue, com tudo aquilo que me conseguiram fazer sentir, com esta história que não temos que explicar, porque sabemos.
Cabo Verde é a nossa cumplicidade. A nossa euforia. O nosso companheirismo. É esta preocupação mútua, esta felicidade partilhada, este à vontade tão imediato e genuíno.
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Cabo Verde.
Foi tudo o que me fez viver e foi tudo o que me mostrou. Tudo o que me deu e tudo aquilo que de mim ficou lá.
Cabo Verde são as minhas novas nódoas negras, que vão doer por muito tempo. Mas é também o conjunto das cores mais bonitas da minha alma.
-
Cabo Verde é esta visão nova. É esta sensação que os meus lugares já não parecem os mesmos. Que tenho uma casa muito cheia. É este pensamento sempre lá. Esta vontade de já não querer parar, esta prova de que todos devemos procurar a nossa missão. É esta gratidão à minha família por compreender. O pedido de desculpas aos amigos de quem estive desligada.
-
Cabo Verde é esta cicatriz boa.
Cabo Verde é esta sensação de que tudo fez sentido. Que tudo se alinhou. Que tudo foi por uma razão.
-
Cabo Verde é esta lembrança do Joel, a cada noite estrelada. Porque em resposta a este miúdo: Na minha terra também há estrelas. E, sabes, é neste céu brilhante que está a nossa ponte.
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É verdade: Fui a Cabo Verde e voltei. Mas tenho esse céu para me lembrar que há sempre mais do que este lado.
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Cabo Verde,
Até um dia - num desses sopros de tempo.
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