#47 é um espetáculo único no meu repertório. - diz Djam Neguin
Djam Neguin fala sobre o espetáculo #47, que vai estrear dia 10 de Abril, no Auditório Nacional na Praia
#47. É um título que nos remete logo para o episódio da Fome de 47 em Cabo-Verde. Esse é o ponto do partida para esta nova criação?
Sim. Gosto dessa colocação “ponto de partida”. Posto assim, já admitimos que vamos daí para outras direções, já que a proposta concetual é precisamente o de fazer vários links, traçar várias incursões por questões que partiram desse processo de pesquisa e criação…
E o que o motivou para esse processo?
Penso que de uma maneira geral, a pandemia causada pela Covid 19 foi o que me levou a cogitar sobre determinados acontecimentos na nossa órbita cabo-verdiana e rapidamente fez match com a minha vontade artística de mergulhar um pouco a fundo na temática….
Essa vontade também pode ser encontrada ao longo de outros espetáculos seus?
Sem dúvida. Todos os meus trabalhos autorais a partir de Plato (2015) convergem nesta mesma motivação – ter elementos, aspetos, acontecimentos - que sejam referentes à minha (nossa) condição enquanto cabo-verdiano, já que esse é o meu passaporte também de identidade no mundo…
Podemos ver que os seus trabalhos são bastantes experimentais e contem abordagens estéticas distintas, como por exemplo Mornatomia (2020) ou Tango.Ponto.Dog (2017). Isso é algo que podemos esperar de #47?
Bom, tem uma característica minha que penso que vai me acompanhar ao longo da vida: é que eu gosto de me experimentar e procuro ser inventivo. Não é uma mania (riso), é uma forma de vida mesmo. Eu admito e admiro a possibilidade de multi-existencias e até que ponto elas se sustentam. Então é normal que eu crie coisas que não “tem a ver umas com as outras”. Então sim, #47 é um espetáculo único no meu repertório. Tem sempre coisas que eu vou percebendo que gosto de explorar, por exemplo áudios-sonoridades reais misturadas com música, é uma delas.
Vemos que o espetáculo se classifica para maiores de 12 anos, podemos esperar então algo forte?
Não é um espetáculo politicamente correto, e tem elementos dramatúrgicos muito pesados para crianças. Acredito que para algumas pessoas vá ser, de certa forma, uma experiencia bem intensa…
Como foi construir este trabalho?
Normalmente, eu sempre tenho um tempo de pesquisa, de rabiscos de ideias e motivações. E neste caso, não fugi à minha regra (risos) Depois eu vou caminhando por aquilo que me suscita algum interesse, algo que me emociona, algo que ativa meu senso critico, etc… depois intuitivamente vou visualizando em cena.
Neste caso, trabalhando com estes bailarinos, foi com muito diálogo. E não foi fácil (risos) porque as coisas que estavam a ser propostas causavam imenso espanto, as vezes repulsa, as vezes medo, as vezes estranheza e incompreensão. Mas ultrapassar essas barreiras foram uma vitória (risos)
Essa estranheza é que define a dança contemporânea?
Não acho que seja um atributo da DC. Isso varia de criador para criador. Se há algo que possa contribuir para definir a DC é o facto dela se abrir a novas possibilidades de se pensar dança, de se pensar corpo, de se pensar as relações público-artista-obra…
Em CV não estamos muito familiarizados ainda…
É…não muito. Ainda temos um caminho a percorrer. Mas estamos aqui para ir fazer! Resistências !
Palavras finais?
Que vão ver o espetáculo dia 10 (risos).
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