"Fui violada durante 4 anos pelo meu padrasto"

Neste anos aprendi que a família não é só a de sangue ou quem te cria.. e sim quem tu escolhes

Natacha Tavares usou a sua pagina de rede social para contar sua historia

"Vim contar a minha história ao mundo, sei que vai ser um choque para algumas pessoas, mas sei que esta seria a melhor maneira. E por que não tenho mais nada a perder na verdade. Tudo o que eu prezava e lutei não tenho mais, só me resto a mim.

Este homem que me abusou esteve até hoje a ser visto como viúvo que criou duas filhas sozinho, o bom samaritano, mas não vai mais.

Neste anos aprendi que a família não é só a de sangue ou quem te cria.. e sim quem tu escolhes.. que estão lá pra ti. Estraguei algumas relações entre amigos, familiares e namoro tudo por que fiquei tão presa ao passado, mas ainda está a ser um aprendizado..

Estou orgulhosa de mim por ter saído do escuro, e ter a coragem de contar e ter agido sobre esta situação. 

- O meu nome é Natacha Filipa Barbosa Tavares tenho 22 anos e finalmente, com muito sofrimento e coragem consigo dizer que sofri de abuso sexual e fui violada durante 4 anos pelo meu padrasto, Hugo Alexandre Águia Lourenço. Só contei isto a duas pessoas, o meu ex e a minha amiga Dany. Obrigada por acreditarem em mim.

Isto tudo aconteceu quando a minha mãe faleceu, dos meus 12 anos, ficando eu e a minha irmã (filha da minha mãe e do meu padrasto) do cargo dele, tudo por que não queria ficar separada da minha irmã. Nós mudamo-nos para Lisboa e foi aí que começou o pesadelo. Nós estávamos a viver de momento em casa da minha tia (irmã dele) e nos os três partilhávamos um quarto com 2 camas. Eu dormia na de solteiro e a minha irmã dormia com ele na de casal. Foi nesse quarto onde me tirou a virgindade, eu tinha 14 anos. Eu ia dormir numa cama e acabava noutra.. eu não sabia o que era aquilo ou o que eu tinha que fazer. Sei que os meus tios notaram essa mudança, e disseram para eu passar a dormir com a minha irmã, mas o desfecho era o mesmo.. ele tirava a minha irmã da cama para por na outra.. e me violava. Mas o pior veio depois. 

Quando saímos de lá para uma casa nova. Ele esperava a minha irmã adormecer para me obrigar a ir para o quarto dele. Não havia chaves naquela casa eu nem podia tomar banho tranquila pq ele aparecia sempre. Era levada pelo braço, trancada no quarto dele para que não pudesse fugir..

Eu comecei a fazer tempo na escola. Sempre que pudesse chegava tarde a casa ou ir pra casa de uma amiga até anoitecer, porque não me sentia segura em casa.

Começaram a vir ameaças, de se que eu falasse com alguém que ele ia fazer o mesmo à minha irmã. Ele brincou muito com o meu psicológico, a dizer que o "pai não faz isto por mal” ou que "desde que a

mãe morreu tu és a única coisa viva que me faz lembrar ela, tens de compreender " ou "devias agradecer me por te estar a criar quando o teu próprio pai não quis saber de ti quando a tua mãe morreu”.

Depois disso eu tentei dizer a verdade, dos meus tios (da família dele), começando por "o pai obriga me a dormir com ele" só que eles defendiam me só atrás das costas dele.. Uma vez tentaram falar com ele mas piorou tudo.. ele começou a não deixar comer em casa, à não comprar roupa, ou dar me dinheiro para passe.. durante meses não quis me pagar propinas, e eu só ia ter direito a esse privilégio se fosse para cama com ele, no qual eu recusava me. 

Muitas vezes tínhamos que ir para casa da tia ou da prima, às escondidas para comer.

Tínhamos imensas discussões porque não podia sair de casa, não me deixava ir a festas da minha família da parte da minha mãe, ele queria me isolar de toda a gente.

Certa altura quando fui obrigada a sair de casa, tentei contar dos meus tios começando pela parte da comida e do dinheiro e eles não acreditaram em mim que tinham que ouvir a versão dele para saber se bate tudo certo, falaram com ele e ele disse que tou na fase da rebeldia..

como é que lam acreditar no resto? Não iam, então não disse nada.

Nisto comecei uma relação com o meu ex e ele só acreditou quando falou com a minha irmã.. e ela confirmou que as vezes ela ia dormir as 3/4 da manhã comigo pra que ele não me fosse buscar, que sempre

ouvia os meus gritos.. nunca tínhamos falado sobre isso mas ambas sabíamos o que se passava, e em certa parte eu a protegia para que não lhe acontecesse o mesmo e ela tentava me proteger ao ficar acordade e dormia comigo, mas proteção acabou quando eu disse à minha irmã que ia contar aos tios (da parte materna) só que ela em vez de ficar do meu lado veio com uma conversa de que não era conveniente para ela, pois ia perder a casa, ia ter que sair da escola do pé dos amigos.. ia perder as regalias que o pai lhe havia dado para a comprar no fim.. Para que ela ficasse do lado dela. Então, tinha visto que não valia a pena contar nada sendo que a única pessoa que teria como testemunha, que vivenciou todas as coisas, de gritos, a porrada, a discussões, prefere se esconder em luxos do que proteger a pessoa que a criou desde os 6 anos. E Ta tudo ok. Mas quem é que ia acreditar em mim sem provas? Sem nada? ninguém.

Só que me sinto sufocada, a minha cabeça não aguenta mais, por mais que tente ser positiva e ver o melhor da vida, isto vai sempre comer-me viva.

Neste momento já perdi tudo o que era importante para mim, porque não parar de adiar e enfrentar de cabeça o meu medo e o meu abusador? O que posso perder mais? As ameaças dele são claras, que era capaz de me matar se contasse algo e que preferia ir preso do que admitir o que fez. Mas o mais provável é gastar uma massa de dinheiro e ele ganhar na mesma como todos os outros casos mas ao menos tentei.

Só queria pedir desculpa a toda a gente à qual não tive a coragem para falar sobre isto todas e a todas as vezes que neguei, que não era nada. Desculpem mas por muito tempo pensei que era culpa minha.

Que eu tinha causado isto e que o tinha que guardar pra mim porque não ia adiantar de nada. So há uns poucos anos é que percebi a gravidade do que me tinha acontecido e de que não era amor, era manipulação, pedofíilia e violação.