Nastienka na tasca da rosa

Eu fui lá, queria estar lá, doido, corpo dolorido e a boca saliente a querer dizer coisas mínimas a aquele povo.

 Por Mario Loff

Nastienka na tasca da rosa

Em uma cidade onde as palavras se desgastam como pedras na maré, Nastienka caminhava com a leveza de quem carrega segredos guardados no sutiã de substantivos ativos. 

Ivan Ilitch, o juiz de vícios noturnos e verdades embriagadas que a cada cem anos visita essas ilhas, havia deixado confissões que apenas ela poderia decifrar o código para o rompimento de todos os atrasados criados na cabeça dos homens berdianos. 

Eram encontros regados a cervejas, cafés e chá de cavalas populistas que foram pegos a fazer adivinhações erráticas, sobre como se deve governar as ovelhas que se deixaram dormir e sonhar com um olho aberto, lá a sinceridade se misturava com a escuridão da bebida.

Ela, a musa de passos saltitantes, trazia consigo a concretude do corpo e o vácuo da voz. Ao seu lado, eu, mero espectador de suas manhãs apressadas e tardes de leitura ao lado do brodher TIKU, sentia a eletricidade dos toques acidentais e a frieza das despedidas me atravessando o imaginário e todos os neus medos. 

Queria lhe dizer sobre os voos perdidos, sobre as palavras doces que atiçam desejos e desmoronam barreiras. Mas o açúcar das minhas intenções poderia ser tão perigoso quanto as diabetes nos olhos dos jovens que observam sem ver as gotículas de felicidade do arroma de um café que se toma na tasca da rosa às quatro da tarde.

Naquela manhã, o destino parecia conspirar para o encontro final. Eu fui lá, queria estar lá, doido, corpo dolorido e a boca saliente a querer dizer coisas mínimas a aquele povo. 

Meu coração, um tambor descompassado, anunciava logo a chegada dela. A meio metro de distância, decidi que era hora de revelar toda a verdade. Mas ela passou, e eu acordei de um sonho com uma borboleta em meus lábios a me enviar a dominar o mundo criando as minhas asas e removendo as minhas aspas para sempre. 

“Eu disse”, murmurei, mas as palavras se perderam no voo da borboleta, e a ansiedade de que o povo tinha para saber o que iria dizer desvaneceu, mas disse em voz alta. 

- palavra

Disse