Somos um povo que, por natureza, não temos hábito, disposição e nem políticas credíveis, que estimulam o plantar árvores, e o proteger das mesmas.
DESTRUIÇÃO...
Passando por uma estrada no interior de Santiago, precisamente no Concelho de São Domingos - do lado externo do carro, deparei com essas malditas imagens - um dano ambiental localizado. Do mesmo modo, bem perto das instalações do Ministério da Agricultura e Ambiente, em Achada São Felipe, Praia, o cenário se repete.
Essas cicatrizes espelham nossas ações maléficas, para com às árvores e o ambiente em si, e deitam por terra, algumas "bazófarias" em torno da preservação das árvores, e das florestas em Cabo Verde, proferidas por algumas pessoas na TCV, aquando da comemoração do dia mundial da Preservação das Florestas (21/03).
Estas imagens, podem não chamar a atenção de todos que às vêem; podem não dizer nada à aqueles que às cortam e que às queimam; podem não preocupar aqueles que deveriam zelar pela preservação das árvores - mas, a mim, me chamam atenção. Não porque sou mais sensível, ou que eu consiga mudar a realidade, até porque, não sou especialista na área, e, muito menos, não tenho poder nenhum para o fazer.
Porém, se todos preservassem mais às árvores e preocupassem mais com o todo envolvente, em prol do nosso bem, da preservação ambiental, e, visando um mundo melhor, às pequenas coisas e atitudes do bem, que por vezes nos parecem banais, teriam, com certeza, outro sentido, e muita coisa mudaria em prol de um mundo mais são, mais verde, mais vivo e melhor.
Não é preciso sermos especialistas, coisa nenhuma, para percebermos os danos e os descasos, assim como não é preciso sermos ambientalistas para cuidarmos do todo que nos rodeia e do qual fazemos parte.
Perante tais retratos, da naturaza pedindo socorro, perante o silêncio dos que negam ver e que fraquejam sempre a nível das políticas ambientais, no seu todo, é basta termos olhos para vermos, aceitarmos a verdade dos factos e percebermos os descasos e os danos, que estão a vista de todos, que realmente queiram ver.
Essas acácias, ou melhor, esses cacutos de acácias, se não estou em erro, são frutos de investimentos e esforços conjunto, entre o Estado de Cabo Verde e outros parceiros, que envolveu centenas de pessoas do mundo rural, e não só, que se prontificaram e deram seus contributos, visando não apenas o combate à desertificação, mas também o combate ao desemprego e a miséria que insistiam/ insistem em dar cabo de muita gente, nomeadamente no mundo rural. Contudo, os abates incessantes e despreocupados, estão a conduzi-las, de forma "invisível", ao carvão e às cinzas, sem que ninguém mova uma palha.
Nesta terra, onde o abate das árvores não é preocupação de ninguém, onde a vontade e a disposição para às derrubar, supera às políticas que incentivam o plantar e o proteger das mesmas, torna-se bicudo e difícil incutir nas "mentes verdianas" a necessidade de se preservar às árvores e o ambiente, no seu todo.
Somos um povo que, por natureza, não temos hábito, disposição e nem políticas credíveis, que estimulam o plantar árvores, e o proteger das mesmas. Nós usufruímos apenas, dos benefícios das árvores existentes, não só das acácias, mas também das fruteiras, que foram plantadas há décadas atrás.
A título de exemplo: Comemos mangas que vêm das velhas mangueiras, plantadas pelos nossos bisavôs e pelos nossos avôs; igualmente, os escassos cocos, entre outras frutas que comemos, vêm das velhas fruteiras, plantadas no passado, por essa gente, que, se calhar, preocupavam mais, não só com às gerações seguintes mas também, com o plantar, o preservar e o renovar das fruteiras e das árvores no seu todo.
Por vezes, vê-se árvores centenárias, e em sítios que, em nada perturbam, a não ser com às suas frescas e atractivas sombras, sendo arrebentadas e arrancadas, por ordens de gentes que deveriam criar condições para que mais árvores fossem plantadas e que às já existentes fossem preservadas.
A meu ver, apesar dos esforços e dos investimentos feitos, da enorme contribuição das pessoas, que após o cair das chuvas, se espalharam pelos campos desertos e plantaram milhares de mudas de acácias, não foi o suficiente. Creio que uma "aposta séria" na fiscalização, que me parece não existir, seria um passo bastante animador. Pois, não bastava apenas plantá-as e vê-las crescer - seria necessário protegê-las; não apenas inicialmente, das bocas e das pisadas, das cabras e das vacas, mas também de forma continua, das catanas, das serras, e de outras más ações do bicho da minha espécie.
Perante tais factos, ninguém abre o "bico" para se pronunciar ou se posicionar, face à esse crime ambiental que está a dizimar inumeras árvores, deixando hectares que já as tinham, praticamente vazios, ou com os troncos secos ou mutilados, em vários sitios da ilha de Santiago, ou todo o país.
O Estado, através das instâncias próprias, em parceria com outras entidades, deve, ou deveria, preservar melhor essas acácias, e as árvores no seu todo, pondo cobro à essas práticas, ilegais, desenfriadas e destrutivas.
É sabido que "kumida di lênha ê mas sabi" - mas, não necessariamente devemos exterminar às árvores para termos galhos para usarmos na combustão. Devemos sim, poda-lás, de forma consciente e responsável, para que possamos também ter sombras, "driblar" a desertificação, e termos o verde que tanto se almeja por essas terras.
Por essas bandas, para se derrubar uma árvore ou dezenas de árvores, é basta munir-se de uma catana, de uma serra, ou de uma moto serra, e ter disposição para o fazer - não há qualquer tipo de fiscalização e, muito menos, punição.
Se isto continuar, no ritmo em que se encontra, da forma como se está a fazer, e aos gostos dos que os fazem - em breve, não restará uma única acácia. Apenas retratos como estes, ou campos mais desertos, cujo incessante processo destrutivo encarregar-se-a de os revelar.
Preservaríamos melhor o ambiente, se preocupassemos mais com às árvores e com o todo envolvente
Joao Delfortes
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