Nos próximos tempos, nada de cegueira e medo, que tem vivido na travessia das ilhas.
Sobre os cachorros gordos!
Que fique bem claro, gosto dos cachorros gordos, mais ainda se são felizes.
Não era para ser eles naquele quarto. O dono do cómodo, Don Casimiro, tinha emprestado ao lavador de carros da rua dos chafarizes, que recebeu proposta de pagamento pelos serviços de lavagem do camião, pouco dado a dinheiro, algo mais a carne e carnalidade, o dono da viatura chegou com fome e tinha atravessado o mar de canal com sustos ao ver todas as ilhas a quererem juntar num só, outras vezes lhe aparece nos sonhos uma só cabeça com dez corpos, brotando água benta a noite, salgada de dia. Libertam recados fixos na estrutura da viatura.
Não sujidade. Era o bolor do medo, não que ele seja o dono, mas a sua alma está lá, quando entrega o seu desejo ao projeto dos outros homens.
Não era a maresia que, embora não era de todo algo sujo, trazia o incomodo da noite ao atravessar as estradas de entre serras. O juiz a toda pressa lavou a viatura, pensando sempre nas formas acrobáticas que um homem pode fazer contra um homem em pleno oceano tomando o largo colchão duro como mar brabo, ela é de palha de milho seco como conforto e cheiro forte de azagua de desistência e fé contra fé, vaginas do telhado contra bambos de djon da cruz.
Gastou pouca água, alguns panos passados, limpava na esquerda e na direita, se formava, conforme o projeto de vida, uma outra cara, novas ideias e novas verdades. A ideia do juiz era fazer coisas brutais no cómodo emprestado, pensou ele: vou atropelar ele, vou assumir o posto dele, vou derruba-lo, rasgarei ele em carne viva contra carne a ferro e fogo, a sangue e odor forte da terra, terei o papel importante na área dele, por ultimo, possuirei ele por inteiro, é ali que o amor arde. Porque amor é uma mascara e um carnaval absoluto.
Terminou de limpar o camião, uma luz do alto brilha lá no capô, talvez o cérebro de um carro desgovernado, pôs a mão na testa e viu um país a renascer, aproximou, viu alguns cachorros a partirem, outros tantos cães a latirem como se falassem de covardes e covardias dos cachorros gordos que fogem para outros cantos da vida.
O juiz apanhou o seu balde e correu para o cómodo e lá viu novos homens de carne e osso, com peles ao relento e relendo as ilhas em altos tons de esgotamento, a deixarem uma cama líquida para passar uma nova viatura, mas ela está desgovernada.
Então, quando a viatura arrancou, houve um espanto, por ter sido abandonado o seu dono em pela hora da luz, cheios de picos com pólvoras nos dentes e em particular dos desejos empregadas nas acrobacias. Ele afirmou que foi há muito tempo que tem assistido os sustos, tomando a conta da terra no parabrisas e nos olhos.
Nos próximos tempos, nada de cegueira e medo, que tem vivido na travessia das ilhas. Os fazedores da esperança no cómodo juraram a pés juntos que nenhum deles negaram amar o país, exceptuando o juiz que deveria, por obrigação, estar a lavar a cabeça da nação, nunca mais se pronunciou, só lame tou que se o quarto não é dele e não deles, então sobre então. Vivemos num espaço emprestado. Desde então, ficou a correr dos dos cachorros gordos. Não valem nada, mas servem ao país.
Mário Loff
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